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quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Auto-estranhamento


Eu não sei dizer quem sou...

Mas sei que não sou o mesmo de outros ontens.

Contudo, quem sabe?

O tempo seria um espelho no qual vejo diferentes passados? 

Ou um jogo de cartas marcadas pela morte?

E se a vida continua quem permanece? Quem desvanece? Quem se esquece ou quem se lembra? 

Nesses momentos o ponto (de interrogação) que sou estremece.

Qual a pergunta que nunca foi feita?

Sou um entrante de mim mesmo?

Como posso modificar o que sou quando o que sou é modificação?

Posso revolucionar-me?

De todas as revoluções há aquela que é mais difícil, apesar de totalmente possível, portanto não utópica, onde tudo favorece em seu desfavor e para a qual não há desculpas, pois esta revolução muito própria e solitária é, ao mesmo tempo, estranha e comum (a todos), na qual o ser só pode vir a sucumbir diante de si. Ou não. 

Eis a solidão do(a) guerreiro(a).

DR


sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

A espada de duplo fio da inveja

“Não sejamos ávidos da vanglória. Nada de provocações, nada de invejas entre nós” (Gal 5, 26).

A inveja é alegria e tristeza ao mesmo tempo, alegria pela tristeza do outro e tristeza pela alegria do próximo, é o pecado oculto, ninguém o admite e isto ocorre por que há um outro pecado que esconde a inveja. A inveja como pecado é tão humilhante, mais tão humilhante que seu sujeito não quer se ver e faz tudo para não se ver, e isto mesmo é a inveja, in_veja, um não ver. Ninguém que ver em si algo tão dilacerante para um outro pecado, pecado capital: o orgulho. É o orgulho que não pode admitir a inveja, pois este reconhecimento implica em olhar a nossa derrota, a nossa inferioridade, a nossa incapacidade. O orgulhoso só quer sair sempre vitorioso e ter a última palavra. O invejoso quer ver apenas a derrocada do outro, mas não a própria, por isto Dante Alighieri apresentou o invejoso com os olhos costurados por arame em seu Purgatório.

Naturalmente, a inveja é um pecado óbice para aqueles que buscam se auto-conhecer, pois nos impede de ver a nós mesmos, assim como a ira que cega e o orgulho que ofusca, a inveja nos impede de ver antes de tudo a nossa própria singularidade, pois sobrevive apenas num desejo de comparação entre pessoas que não podem ser na verdade comparadas, pois todos somos únicos. Se reconheço em cada um a sua própria singularidade como a inveja pode subsistir? Mas vivemos numa sociedade que estimula a comparação constantemente apesar de sermos incomparáveis.

A inveja possui dois servos fiéis e usa destes dois servos fiéis para secretar o seu veneno, são servos poderosos e operam através da língua humana como se fossem dois demônios ou dois obsessores, para usar a linguagem mais moderna, a versão atualizada da palavra demônio: obsessor.

Se a inveja for vista como uma espada pontiaguda estes dois obsessores compõe a espada de duplo fio da inveja: a crítica e a fofoca.

A crítica e a fofoca compõe a assessoria de imprensa da inveja, uma assessoria de bastidores e esgotos.

Reparem que tanto um como o outro seguem o mesmo estilo de sua senhora inveja, nunca se apresentam, sempre se dão pelas costas, as escondidas, agem de forma astuta, velada, secreta, de forma indireta pois não podem revelar a sua senhora sempre envolta em trevas, em cantos escuros e mentiras. Como o invejoso, o crítico da vida alheia e o fofoqueiro sempre realiza suas falas pelas costas daquele que é o objeto de sua língua ele revela uma outra qualidade terrível que o próprio Dante Alighieri coloca no último círculo dantesco. Imagine alguém que por trás fala mal e pela frente lhe trata bem, lhe cumprimenta abraça e até beija. Isto nos lembra Judas que traiu Jesus (terá traído mesmo? Dizem, e essa é fala fofoqueira por excelência, pois o fofoqueiro sutil coloca sempre o sujeito elíptico para encobrir a si mesmo, que Jesus a cruz rogou ao pai da seguinte forma: - Por que me abandonastes?) com um beijo e nos faz perguntar: quem não tem inveja?

Quem não tiver apresente-se, trata-se de uma raridade, tão rara que dá até para desconfiar.

Já a inveja é legião.

E horrorizados vemos aquilo que não consegue olhar com alegria pelo bem que o outro é.

E vemos que nos fizemos tal como somos pela própria inveja não admitida.

Porque admiti-la destrói o nosso ser no mundo, por isso está escondida de ti por trás da ira, da crítica , do sacrifício ou da falsa rebeldia, com seus rebentos disformes da reclamação, da fofoca e do despacho de língua ferina.

Inveja. Veja in, olhe dentro, expurgue-a pelo olhar compreensivo, na figa da auto-observação, pois cada qual possui um dom divino para benefício de todos.

Oh, auto-estima minada!
Ó mediocridade de si!
Ó maldita e mal-olhada, escondes em ti teu próprio bem.




quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Observação de si, atenção e pequenos hábitos

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A impecabilidade começa com um único ato, que tem de ser deliberado, preciso e fundamentado. Se esse ato é repetido pelo tempo suficiente, adquire-se o senso de um intento inflexível, que pode ser aplicado a qualquer outra coisa. Se isso é realizado, o caminho é claro. Uma coisa leva à outra até que o guerreiro perceba todo o seu potencial - Carlos Castaneda.


A observação de si é muito difícil. Quanto mais tentarem, mais perceberão isso. No momento, devem exercitar-se nela, não objetivando um resultado, mas para compreender que não podem se observar. Até agora imaginaram que se viam e se conheciam.

Estou falando de uma observação de si objetiva. Objetivamente, vocês não são capazes de se ver nem por um minuto, porque trata-se aí de uma função diferente: a função do amo (do ser).

Se acreditarem que podem observar-se por cinco minutos, isso é falso; seja vinte minutos ou um minuto, dá no mesmo. Se constatarem simplesmente que não podem observar-se, então terão razão. Sua meta é chegar a isso.

Para alcançar essa meta, devem tentar e tornar a tentar. Se tentarem o resultado não será a observação de si no sentido pleno da palavra. No entanto, o próprio fato de tentar fortificar a sua atenção. Aprenderão a se concentrar melhor. Tudo isso será útil a vocês mais tarde. Só mais tarde é que poderão começar a se lembrar verdadeiramente de si mesmos.

Hoje só dispõem de uma atenção parcial, proveniente, por exemplo, do corpo ou do sentimento.

Se trabalharem conscienciosamente, vocês se lembrarão de si mesmos e não mais, porém menos, porque a lembrança de si mesmo é cada vez mais exigente. Isto não é tão fácil, tão barato .

O exercício da observação de si é suficiente durante anos. Não tentem mais nada. Se trabalharem conscienciosamente, verão do que necessitam.

Pergunta : Como podemos adquirir atenção?

Resposta : Ninguém tem atenção. Sua meta deve ser adquiri-la. A observação de si só é possível depois que se adquire atenção. Comecem por pequenas coisas.

P.: Por quais coisas pequenas devemos começar? Que devemos fazer?

R.: A sua constante agitação nervosa faz os outros sentirem, consciente ou inconscientemente, que você não tem autoridade alguma e é um pobre coitado. Você não pode ser alguém mexendo-se continuamente como está fazendo sempre. A primeira coisa que você deve fazer é parar essa agitação. Faça disso a sua meta, o seu deus! Peça até mesmo a sua família que o ajude; depois disso, talvez possa adquirir atenção. Eis um exemplo do que significa fazer.

Outro exemplo: aquele que ambiciona se tornar pianista só poderá aprender aos poucos. Se você quiser executar melodias sem praticar antes, nunca poderá tocar verdadeiras melodias. O que vai tocar será uma cacofonia penosa de ouvir e que o fará ser destestado pelos outros. Ocorre o mesmo no domínio psicológico: para se adquirir algo é preciso uma longa prática.

Tente fazer primeiro coisas bem pequenas. Se você quiser começar de imediato por coisas grandes, nunca chegará a ser nada; as suas manifestações terão efeitos igualmente cacofônicos, que farão com que as pessoas o detestem.

P.: Que devo fazer?

R.: Há duas maneiras de fazer: uma por automatismo e a outra para alcançar uma meta. Escolha uma pequena coisa que não é capaz de fazer e faça dela a sua meta, o seu deus. Não deixe que nada se interponha. Olhe só para isso. Então, se você conseguir isso, será possível para mim dar-lhe uma tarefa maior. Por ora, você tem olhos maiores que a barriga, aspira fazer coisas grandes demais e nunca as poderá fazer. É um apetite anormal que o desvia das pequenas coisas que você seria capaz de fazer. Destrua esse apetite, esqueça-se das coisas grandes. Tome como meta vencer um pequeno hábito.

P.: Creio que falar demais é meu pior defeito. Seria uma boa tarefa não tentar falar tanto?

R.: Para você é uma meta muito boa. Você estraga tudo com a sua tagarelice, que prejudica inclusive seus negócios. Ao falar demais, as suas palavras não têm peso nenhum. Tente superar isso. Se conseguir, todas as espécies de benção fluirão para você. Sem dúvida, é uma meta muito boa, mas é uma coisa grande, não é uma coisa pequena. Eu lhe prometo que, se você conseguir isso, mesmo que eu não esteja aqui, eu vou sabê-lo e lhe mandarei ajuda, para que saiba o que deve fazer a seguir.

P.: Suportar as manifestações dos outros seria uma boa tarefa?

R.: Suportar as manifestações dos outros é uma coisa grande, talvez a maior para um homem. Só o homem realizado é capaz disso. Comece fixando como meta a capacidade de suportar uma manifestação de alguém que você não pode aguentar hoje sem se exasperar.

Se "quiser", "poderá". Sem querer, nunca poderá. Querer é a coisa mais poderosa do mundo. Com um querer consciente, tudo se consegue.

P.: Eu me lembro com frequência de minha meta, mas não tenho energia para fazer o que sinto que devo fazer.

R.: O homem não tem energia para atingir as metas que fixou para si, porque toda a sua força, acumulada durante a noite, durante o seu estado passivo, é desperdiçada em manifestações negativas, que são manifestações automáticas, ao contrário das manifestações positivas, voluntárias.

Para aqueles dentre vocês que já são capazes de se lembrar automaticamente de sua meta, mas que não tem força para realizá-la: sentem-se sozinhos durante uma hora pelo menos; relaxem todos os seus músculos. Deixem desenrolar suas associações mas sem deixar-se absorver-se por elas. Digam a elas: "Se me deixarem fazer agora o que quero, mais tarde lhes darei o que desejarem". Olhem para as suas associações como se fossem outra pessoa, para não se identificar com elas.

Ao cabo de uma hora, peguem uma folha de papel e escrevam nela sua meta. Façam desse papel o seu deus. Que fora dele nada exista. Tirem-no do bolso e leiam-no constantemente, todos os dias. Assim a meta se tornará parte de você mesmo; de início teoricamente, depois realmente.

Para adquirir energia, pratique o exercício que consiste em ficar sentado tranquilamente, com todos os músculos relaxados, como se estivessem mortos. Só quando estiver tudo calmo em você, depois de uma hora, é que tomará sua decisão. Não permita que as associações o absorvam. Fixar uma meta voluntária e alcançá-la gera magnetismo e capacidade de "fazer".

P.: Que é o magnetismo?

R.: Num grupo verdadeiro, se poderia dar uma resposta verdadeira a essa pergunta. Digamos que o homem tem em si duas substâncias: a substância dos elementos ativos do corpo físico e a substância proveniente dos elementos ativos da matéria astral.

Quando se combinam, essas duas substâncias formam uma terceira. Essa substância composta se concentra, por um lado em certas partes do homem e, por outro, forma uma atmosfera em torno dele, semelhante a atmosfera que envolve um planeta.

Sob a ação de outros planetas, a atmosfera de um planeta adquire ou perde continuamente substâncias. O homem está cercado de outros homens, do mesmo modo que os planetas estão cercado de outros planetas. Quando, dentro de certos limites, duas atmosferas se encontram e são "simpáticas", se estabelece entre elas uma relação que dá resultados de conformidade com as leis. Algo circula. A quantidade de atmosfera continua a mesma, mas a qualidade muda. O homem pode controlar a sua atmosfera.

É como a eletricidade: há o positivo e o negativo. Um ou outro pode ser aumentado e levado a fluir como uma corrente. Todas as coisas tem uma eletricidade positiva e negativa. No homem, os desejos e não-desejos podem ser positivos e negativos. A matéria astral se opõem sempre a matéria física. Nos tempos antigos, os sacerdotes eram capazes de curar as doenças através da benção . Alguns deles tinham que por suas mãos sobre os doentes, outros podiam curar a curta distância e outros à grande distância. Um sacerdote era um homem que tinha "substâncias compostas" e podia se servir delas para curar os outros. Um sacerdote era um "magnetizador". Os doentes carecem de "substâncias compostas", carecem de magnetismo, carecem de "vida".

Se estiverem concentradas, essas substâncias compostas podem ser vistas. Uma aura, um halo, é algo real e às vezes pode ser vista em lugares santos ou igrejas (ou locais de poder).

Mesmer descobriu o uso dessa substância. Para ser capaz de utiliza-la, é preciso primeiro adquiri-la.

O mesmo ocorre com a atenção.

Só se adquire atenção pelo trabalho consciente e pelo sofrimento voluntário, por pequenas ações realizadas conscientemente.

Faça de uma pequena meta o seu deus; isso o levará a adquirir magnetismo. O magnetismo, como a eletricidade, pode ser concentrado e transformado em corrente.

Em "Gurdjieff fala a seus alunos", págs. 94 à 98, Ed. Pensamento.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

O começo de tudo: a auto-observação

Se olhar para si mesmo fosse algo comum o ser humano não teria necessidade de escolas esotéricas, mestres, gurus ou terapeutas. E olhar para si mesmo para poder se conhecer só é possível devido a presença de algo que nos tira de nossa própria presença: o outro. Sartre disse que o inferno é o outro. O dono do inferno é Satã, que significa o adversário, o outro. Assim o outro é Satã, parafraseando Sartre. Inferno e Satã são apenas metáforas para a consciência adormecida ou identificada. É pelo enfrentamento estratégico e implacável com o outro que percebemos a nós mesmos e notamos que o outro é um espelho de nós mesmos. Isso é observar-se, perceber no outro um espelho de si. É preciso fazê-lo sempre, o tempo todo e sem fim. Esse é o caminho. Olhar para si mesmo sem julgar ou justificar e olhar para o outro da mesma maneira, vendo as manobras do ego aqui e lá, é um exercício de implacabilidade e espreita de si.

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....TUDO QUE AS MINHAS TENTATIVAS DE LEMBRANÇA DE SI
ME MOSTRARAM, ME
CONVENCEU BEM CEDO DE QUE EU ESTAVA
DIANTE DE UM PROBLEMA NOVO
COM QUE A CIÊNCIA E A FILOSOFIA NÃO TINHAM SE DEPARADO...
P.D. Ouspensky

Todo o trabalho deriva do homem que começa a observar-se. A auto-observação é que nos permite mudar interiormente. Não devemos confundir o observar com o conhecer. Falando superficialmente, podemos dizer que alguém sabe, por exemplo, que está sentado em uma cadeira, mas isto não quer dizer que a está observando. Falando mais profundamente, talvez uma pessoa saiba que está em um estado negativo, mas isto não quer dizer que o está observando.

A auto-observação é um ato de atenção dirigida para dentro, para o que está acontecendo na pessoa. A atenção deve ser ativa, isto é, dirigida. No caso, por exemplo, de uma pessoa a quem se tem antipatia, é possível notar os pensamentos que se acumulam na mente, o coro de vozes que falam dentro de nós, o que estão dizendo, as emoções desagradáveis que surgem, etc. Também notamos que estamos tratando interiormente muito mal à pessoa a quem temos antipatia. Para ver tudo isso é necessária uma atenção dirigida.

A atenção vem do lado observante, os pensamentos as emoções e os movimentos pertencem ao lado observado, isto é, há que dividir-nos em dois, observador e observado. O lado do observador é interior ao lado observado, ou está por cima dele; mas seu poder de consciência independente varia, porque a qualquer momento poderá ficar submerso.

Nesse caso ficará completamente identificado com o estado negativo. Aí a pessoa não observa o estado, porque ela mesma é o estado. Cabe dizer que o fato de ser negativo é conhecido, mas não é observado.

Muitas vezes também se confunde o pensar com o observar. Pensar e observar são bem diferentes. Um homem pode pensar todo dia a respeito de sua pessoa e não auto-observar-se sequer por um momento. Observar nossos pensamentos não é a mesma coisa que pensar. O Quarto Caminho ensina que o homem deve observar tudo nele, sempre como se não fosse ele, mas sim outro. Isto significa que ele deve chegar a dizer:

"O que está fazendo esse eu?"

E não "o que eu estou fazendo?" Então vê os pensamentos que se sucedem, as emoções, as comédias privadas, os dramas pessoais, as elaboradas mentiras, as desculpas e justificativas, os discursos, que passam sucessivamente. No instante seguinte, cai outra vez no sono e desempenha seu papel em todos eles, isto é, atua na comédia que compôs e crê que é verdadeira.

É preciso que um homem seja capaz de dizer: "isto não sou eu", a todas as peças e canções estabelecidas, a todas as representações que se sucedem nele, a todas as vozes que toma pela sua. Sabe-se que, às vezes, antes de dormir, ouvimos fortes vozes na cabeça. São os eus que estão falando. Durante o dia, passam o tempo todo falando, só que os tomamos por Eu, por nós mesmos.

Quando você encontra-se em um estado desagradável e auto-observa-se durante alguns minutos, notará grupos diferentes de eus desagradáveis que tentam, um após o outro, ocupar-se da situação e tirar proveito dela. Isto se deve a que os eus negativos vivem sendo negativos. Sua vida consiste em pensar negativamente ou sentir negativamente, isto é, em proporcionar-lhe pensamentos negativos e sentimentos negativos. Deleitam-se em fazê-lo porque para eles assim é a vida.

No trabalho sobre si, é preciso observar sinceramente quando se goza dos estados negativos, em especial quando se goza secretamente deles. Se um homem sente prazer sendo negativo, sejam quais forem as formas de ser negativo, e são muitas, não poderá separar-se delas. Não é possível separar-se de algo pelo qual sente-se um afeto secreto. Em realidade, o que ocorre é que a pessoa identifica-se com os eus negativos por meio de um afeto secreto e assim sente seu gozo, porque seja qual for a coisa com a qual uma pessoa identifique-se, converte-se nela.

É preciso observar a fala interior (VERBALIZAÇÃO) e o lugar de onde provém. A fala interior automática é a semente de muitos estados desagradáveis futuros e também da fala exterior equivocada.

Existe a prática do Silêncio Interior. Não se trata de impedir que algo penetre na mente, mas pratica-se o silêncio interior com relação a algo que já está na mente e do qual deve-se ter percepção, mas é preciso não tocá-lo com a língua interior, com o discurso interior, ou seja, não usar a verbalização. A fala interior sempre se ocupa dos estados negativos e forja muitas frases desagradáveis que, de súbito, acham expressão na fala exterior, talvez muito tempo depois.

A fala interior mecânica produz confusão interior, é feita de diferentes formas de mentiras, de meias verdades ou de verdades que se relacionam entre si de modo incorreto, com algo que se agregou ou se omitiu. Em outras palavras, é mentir para si mesmo.

Tudo isso pertence à purificação da vida emocional. Mecanicamente, só simpatizamos com nós mesmos e temos antipatia ou ódio daqueles que não simpatizam conosco. Não é possível o desenvolvimento interior, a menos que as emoções deixem de fundamentar-se unicamente na auto-simpatia (AUTO-IDENTIFICAÇÃO). Talvez uma pessoa se dê conta que diz coisas que, se as recebesse, não as toleraria. Dentro de nós mesmos, todos os outros são impotentes. Podemos arrastar uma pessoa para nossa caverna secreta e fazer com ela o que quisermos. Podemos ser naturalmente corteses mas, neste trabalho, cujo propósito é purificar e organizar a vida interior, isto não basta. O que realmente conta é a maneira como os homens se comportam interna e invisivelmente uns com os outros.

Todo ensinamento esotérico, desde a mais remota Antigüidade, refere-se ao conhecimento de si. O trabalho psicológico aplica-se à nossa realidade invisível, na qual moramos psicologicamente; refere-se à conquista de si, ao domínio de si. Mas uma das maiores dificuldades é justamente, imaginarmos que nos vemos e nos conhecemos integralmente, e isto nos impede de compreender o que significa verdadeiramente a auto-observação e o que quer dizer começar a conhecer-se a si mesmo.

Só quem compreende plenamente a dificuldade de despertar pode compreender a necessidade de um prolongado e árduo trabalho sobre si, com o fim de despertar. VEJAMOS BEM, PROLONGADO TRABALHO SOBRE SI.

Neste trabalho, é preciso dissolver a fantasia e a imaginação negativa. A fantasia pode satisfazer todos os centros, de modo que o homem fica satisfeito com o imaginário em lugar do real. O poder da fantasia mantém os homens hipnotizados, porque o homem sonha que está desperto ou a ponto de despertar. Contudo, geralmente passa-se muito tempo neste trabalho antes que uma pessoa comece a observar sua fantasia. E é difícil observá-la, porque quando a observamos, ela se detém, isto é, tão logo chega a atenção dirigida, a fantasia cessa. Nosso estado de hipnose impede toda observação real e direta. Imaginamos que somos pessoas respeitáveis e agradáveis, e não podemos ver através da bruma de nossa fantasia que não o somos em absoluto.

Por isso é imperativo conhecer o modo correto para trabalhar o que se observa, por enquanto estamos apenas estudando o básico do sistema, e comprovando em nós que assim é, mas muito cuidado para não cair na armadilha de acharmos que podemos realizar um trabalho de auto-observação correta para alcançar a consciência de SI sem ajuda e sem preparo. Já foi dito aqui "nesta lista" que neste caminho sem vontade é impossível evoluir e que sem ajuda é igualmente impossível evoluir. Será que tem alguém aqui que pode dizer que desenvolveu a vontade plenamente? Vamos então criar as condições para que a vontade se desenvolva em nós, ainda é muito cedo para tentar saltos maiores que as pernas, é bem melhor um passo seguro de cada vez que dar um salto para o desconhecido e bater com a cara no muro. temos muita coisa para conversar sobre o sistema, oportunamente veremos as técnicas para criarmos um observador eficiente. Por hora é solicitado a auto-observação como forma de constatar em si a veracidade do que dizemos aqui sobre os muitos "eus", centros, funções, estados de presença, consciência, compartimentos, amortecedores, emoções negativas, sono, vigília, observação de si, consideração interior, identificação, 4c, Gurdjieff, evolução possível, abordagem do sistema, contexto, aqui agora etc, para que possamos partir para algo mais profundo se realmente a nossa vontade para isso se prestar.

Flávio

Sagrado Feminino: Kali.

Justamente hoje (08/03//2024) é interessante lembrar de um arquétipo do feminino que é fundamental, não só pela sincronicidade que está rola...