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domingo, 17 de dezembro de 2023

Meditação: ecologia do espírito



Saúde é o silêncio dos órgãos.

Iluminação é o silêncio da mente.

A saúde do espírito é a iluminação, o êxtase.

Meditação é um estado da mente.

Ou da não-mente.

Concentração é a técnica para alcançá-lo.

Postura é a forma física para atingi-lo.

Concentração e postura são as duas faces, mental e física, da moeda meditativa.

Meditação é clareza, iluminação, êxtase, silêncio.

Definir meditação não é meditação.

Paz sem limites, êxtase incomensurável, terror místico do eu.

Palavras.

Meditar vai além das palavras. A voz do silêncio. A flor de Kashyapa.

O escrito não pode ser meditação, é no máximo uma definição sobre, uma tentativa intelectual de ampliar limites conceituais, aproximando-se sem nunca chegar ao real. O dedo apontando para a Lua.

A postura firme do lótus, a clareza tranqüila do lago são metáforas naturais da meditação.

Sentar em lótus, contemplar o lago quase nunca tranqüilo da mente, observar os pensamentos ondulantes, estar ciente do fluxo da respiração: eis uma técnica para o kensho.

Orar não é meditar. Entoar mantrans não é meditar. Visualizar mandalas não é meditar. Resolver koans também não.

Essas são técnicas, ferramentas de concentração.

Meditar é um estado onde se processa o fim do diálogo interno.

Como eu posso conversar incessantemente comigo mesmo?

Ao conversar comigo mesmo não sou um, sou muitos.

Ao conversar comigo mesmo em voz alta dirão: - Louco!

Ao conversar comigo mesmo mentalmente encubro a loucura.

A loucura é uma doença da mente.

A maioria de nós padece dessa doença e por isso não a percebemos como tal. Tornou-se lugar comum. Normal. Assim o doente considera-se são. Os valores se invertem. Não nos tocamos dessa inversão, eventualmente? São acessos de cura, lampejos de saúde, insights da alma que ainda resiste.

Estamos a tanto tempo doentes que nos esquecemos de nossa condição de natural saúde.

O eu, eu e mais eu é a doença da mente.

Meditação é a cura.

Gaia Ciência. Nietzche nos fala da recuperação da saúde e Buda aponta para a Terra como sua testemunha. Gaia Ciência.

Curar-se é nos tornarmos aquilo que somos: Budas. Humanos. Condutos do Espírito.

Quem em mim conversa, discute, pensa comigo?

Se assim é como posso estar em paz?

Meditar é transcender esse pensar de eu, eu e mais eu.

Então me torno um:

Concentração.

Então me torno nenhum:

Meditação.

Nesse vazio há plenitude.

Nisso consiste o caminho.

Quem conhecendo a meta buscará algo fora dela?

Nossa natureza, nossa essência é essa mesma iluminação.

Estamos distantes de nós mesmos. Sem paz, desconhecendo a nós mesmos.

Se não temos paz em nossa mente como vamos ter paz em nosso mundo?

O exterior reflete o interior.

E apesar de todas as nossas palavras, de toda a nossa cultura, ainda não sabemos a resposta:

Quem sou eu?

Meditação é a resposta não discursiva a essa questão, é a revelação de nossa natureza.

Nossa natureza não é diversa da Natureza. Somos parte daquilo que acreditamos ilusoriamente ser externo a nós mesmos. Vencer essa ilusão dual é um passo no caminho da meditação.

O caminho da meditação, então, pode ser definido como uma ecologia do espírito, pois restabelecemos o equilíbrio natural com nós mesmos.

Assim, ao descobrirmos quem somos nós entenderemos, de fato, o seguinte koan, variante zen do axioma gnóstico.

Um discípulo perguntou ao seu mestre Zen:

"Como posso fazer com que as montanhas, os rios e a grande Terra me beneficiem?"

Respondeu o mestre:

"Vós deveis beneficiar as montanhas, os rios e a grande Terra."

Koan: A mente Zen é a nutrição da Terra. A mente da Terra é a nossa nutrição.

D.R.
05/02/08

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Arcano 11


A força que percorre o universo

Percorre o teu corpo.

Não pode ser diferente.

Teu corpo não é em verdade teu.

É o corpo do universo.

A manifestação do poder.

Perfeito, brilhante, pleno de saúde e luz.

A força do universo que percorre teu corpo

Te faz compreender que és um com a força

tornando-te então nenhum.

Sendo tudo não és nada.

No pináculo do poder desabrocha a flor sutil da humildade.

A plenitude que se manifesta em ti,

É apenas plenitude, presente em tudo, em todos.

Essa consciência da plenitude não pode ser contida em nenhuma palavra criada pelo homem: deus, amor, espírito, nada significam sem a consciência dessa força em si. É um imbecil aquele que olha o dedo que aponta para o céu sem olhar para o céu.

Assim não podes reverenciar ou adorar deus ou deuses, pois tal força está presente em ti, aqui e agora, não és algo distinto ou distante de tal poder. Reverencia o Poder em si através da impecabilidade.

Eu Sou. Tu És. Unos com o Poder. Sê consciente e isso é suficiente.

Se perguntam se acredito em deus digo que não, pois como posso acreditar se o vejo no sol brilhante, no céu azul, no vento suave, nas árvores frondosas, no mar revolto, nos pássaros e aves, na música vibrante, no belo sorriso da mulher amada, no olhar deslumbrado da criança, na força de vida que percorre meu corpo?

Acreditar em deuses ou deus é alienar-se da força em si para alimentar vampiros que manipulam as multidões para se fazerem o que não são.

Não preciso acreditar no que vejo e sinto presente e pulsante em tudo.

A crença é para cegos e insensíveis. A consciência dispensa a crença. A crença oblitera a mente e o coração.

Destrói a crença e deixa brilhar o sol da verdade em tua mente. Destrói toda forma de autopiedade. Destrói os ídolos, as religiões e as igrejas e bebe direto da água da vida. Já foi dito: Não há religião superior à Verdade.

Silencia e procura sentir a força em si.

DR

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Sobre a servidão moderna - documentário

O problema do ser humano-escravo não é tanto o fato em si, ser escravo, mas a constatação de que ele 'ama' as suas correntes: ele 'ama' a sua religião, ele 'ama' o seu time de futebol, ele 'ama' o seu partido político, ele 'ama' aquilo que o oprime, ela 'ama' os seus vícios, ela 'ama' aparecer e ser o garoto propaganda do sistema, ela 'ama' os produtos que o sistema neo-escravista vende, impõe e de forma sutil o obriga a consumir. Onde está escrito 'ama' entenda-se 'apega-se', mas usamos o termo 'ama" pois ele tem uma conotação relativa ao grau de ilusão ou de alienação do escravo às suas próprias correntes. O escravo acredita que suas correntes são fator de segurança, e de fato são, mas não para ele, e sim para aqueles que se julgam seus senhores.

"O escravo, dentro da perspectiva nietzschiana, é aquele que, por impotência, não consegue afirmar-se, não leva sua força até seu limite. A perda de plasticidade o torna rígido, ele se perde em seu mundo, sem conhecer as ferramentas que poderiam ajudá-lo ou sem saber manejá-las. O perigo mora na possibilidade assustadora de que a moral dos escravos passe a criar valores. E, para o horror de Nietzsche, isso acontece. Não que o fraco possa realmente criar valores, em razão de sua condição, isso ele não pode, mas está dentro de suas possibilidades inverter os valores, dando-lhes uma nova feição e anunciá-los como se fossem inteiramente novos" - mais em Nietzche - ressentimento e inversão de valores, por Rafael Trindade.

“A servidão moderna é uma escravidão voluntária, consentida pela multidão de escravos que se arrastam pela face da Terra. Eles mesmos compram as mercadorias que os escravizam cada vez mais. Eles mesmos procuram um trabalho cada vez mais alienante que lhes é dado, demonstram estar suficientemente domados. Eles mesmos escolhem os mestres a quem deverão servir. Para que essa tragédia absurda possa ter lugar foi necessário tirar dessa classe a consciência de sua exploração e de sua alienação. Aí está a estranha modernidade da nossa época. Contrariamente aos escravos da Antiguidade, aos servos da Idade Média e aos operários das primeiras revoluções industriais, estamos hoje frente a uma classe totalmente escravizada, só que não sabe, ou melhor, não quer saber. Eles ignoram o que deveria ser a única e legítima reação dos explorados. Aceitam sem discutir a vida lamentável que se planejou para eles. A renúncia e a resignação são a fonte de sua desgraça.”

Produção: De la Servitude Moderne (Original). Ano produção, 2009. Dirigido por, Jean-François Brient. Estreia. 2009 ( Mundial ) Outras datas. Duração, 52 minutos.

Idioma/Legendas: Francês/Português


Da servidão moderna - Jean-François Brient from Juliane Meira Winckler on Vimeo.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Do amor

O  amor divino é uma expressão redundante, pois o amor é divino, assim como o divino é amor. 


O ser se revela Deus quando ama. 


Amar não é mero desejo, amar transcende o desejo, supera o eu, dissolve-o, é nesse sentido amar é um morrer.


Amar é a nossa verdadeira natureza, nos faz divinos, nos revela em nossa plena humanidade.  


A humanidade é a encarnação do amor, e se assim não é isso apenas mostra como estamos distantes de nossa própria natureza e da verdadeira condição humana. 


Não precisamos crer em Deus quando realmente amamos, pois no amor somos a própria expressão divina em sentimento, em pensamento e em ação. 


Não é por acaso que seres iluminados dizem, simplesmente, que a sua religião é o amor. 


‘Eu me amo’ é uma expressão sem sentido, pois onde há amor não existe eu. "Ouvindo não a mim, mas ao Logos, é sábio concordar ser tudo-um."¹


DR

 


¹ Primeiro dos aforismos de Heráclito de Éfeso.

Sagrado Feminino: Kali.

Justamente hoje (08/03//2024) é interessante lembrar de um arquétipo do feminino que é fundamental, não só pela sincronicidade que está rola...