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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Bruxaria, Magia e Xamanismo - parte 1 - por Nuvem que Passa


Xamanismo, Bruxaria, Magia. Estes três termos são muito usados hoje em dia e existe uma grande similitude entre as pessoas que se aproximam destes caminhos. Vamos refletir juntos sobre este tema começando pelo ato de falar, sobre o ato de trocar informações através de palavras.

Xamanismo é uma palavra. Ela indica, alude sobre algo, mas não é esse algo. Água é uma palavra.

A palavra água pode te fazer lembrar da substância em si, mas não pode mitigar sua sede. Assim como a lembrança mental da água e a imagem da mesma também não o podem fazê-lo.

Quando uso a palavra água a sua mente acessa memórias, experiências já vividas com esta substância. Ao especificar água quente limito o leque de opções. Água fria leva a outro tipo de lembranças.

Pense na água. Imagine a água. Visualize que bebes um copo de água. Agora, se quer mesmo estabelecer uma comunicação mais ampla entre nós, levanta e vai tomar um copo de água. Se fizeres isso vais notar como é totalmente diferente lidar com um conceito, como o da palavra água e tomar água de fato. Portanto o termo água alude a algo efetivo que existe, com o qual tu tens contato, mas não tem o mesmo valor de resolução.

Não mitigas a sede com palavras, só com a substância. Da mesma forma os termos Xamanismo, Bruxaria e Magia não podem ser completamente compreendidos só com abordagens teóricas.

Vamos aludir, vamos nos aproximar, vamos mesmo demonstrar certos fatos de tais práticas, mas note que a compreensão profunda só virá quando tu, que lês estas linhas, fores também alguém que sente a ARTE em tua essência.

Esta é uma abordagem que somente os praticantes podem contemplar plenamente. Porque, em primeira instância, estas três formas de caminhar na existência fazem parte de uma mesma faceta tradicional do conhecimento, a qual transcende toda e qualquer forma de conceitualização. Assim optamos por chamar este o “SABER DOS SABERES”, o qual inclui tudo aquilo que podemos conceber como ARTE.

A ARTE é pois Filosofia, Ciência e Mística. Arte em sua mais plena expressão. Durante nossa era decompusemos a abordagem da realidade nestas formas. Ou abordamos a realidade filosoficamente ou cientificamente, ou misticamente ou artisticamente.

Em resposta à extrema dependência de uma abordagem mística da realidade, típica de certos séculos anteriores, que em verdade é apenas ‘misticóide’, esta Era se esforça por ficar limitada ao que chamam de “concepção científica da realidade”. Insistem em tentar provar que campos como os fenômenos paranormais são ‘científicos’.

Mas a questão central é que, os paradigmas nos quais se apóiam para caracterizar algo como científico contradizem até mesmo as bases da própria noção de ciência, já que a busca de respostas verdadeiras deveria ser a premissa fundamental da ciência, ao invés da manutenção de uma ideologia dominante para manter sociedades inteiras servis.

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria foram perseguidas, e ainda são, em muitos setores desta sociedade que aí está. Vejam as campanhas constantes contra terreiros de Umbanda, Candomblé e movimentos Nova Era por parte dos segmentos mais fundamentalistas de certas religiões em franco crescimento. Estas perseguições são apenas uma das facetas desta luta contra toda forma de trabalho mágico não contemplado pelo paradigma vigente imposto sobre a sociedade.

Esta luta entre campos ideológicos se reflete também na chamada ciência acadêmica, na qual indivíduos com inflados egos influenciam o rumo das pesquisas e no conceituar do mundo, para que certos modelos da realidade não sejam de todo alterados.

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria são formas de abordar a realidade que têm sido perseguidas há tempos em diferentes civilizações. Por que tais caminhos despertam tanto medo? Observando com atenção notamos que sempre que se estabelece um regime absolutista, desejando impor sua vontade privada sobre a vontade coletiva, tais caminhos são os primeiros a serem perseguidos. Toda vez que o poder despótico se faz sentir, os caminhos citados são perseguidos. Os povos nativos continuam sendo oprimidos até hoje. Destruídos enquanto cultura e enquanto vidas, mortos em conflitos diversos.

A Magia e a Bruxaria ganharam espaço entre certas camadas sociais e acabaram fazendo uma lenta migração de volta ao sistema dominante, ressurgindo com força entre vários magistas e bruxos que vem alimentando a cultura oficial com obras nas quais narram suas aventuras e descobertas na vastidão de outras realidades que circundam a nossa.

Lendo os autores originais, e não aqueles que baseiam suas ‘descobertas’ apenas na leitura de outros, ou seja, aqueles que  empreendem uma maior aproximação da fonte a partir da qual tais informações emanam, vamos notar questionamentos profundos sobre a vida, a morte, a consciência, a realidade imediata, a existência de realidades outras que não esta, assim como outros seres habitando mundos ao redor deste. Seres alienígenas à nossa realidade porém presentes em nossa própria realidade mas não perceptíveis a nós. Muitos temas foram investigados por vários indivíduos, homens e mulheres que tiveram acesso a fragmentos de informações, outros à escolas autênticas possuidoras de elos com a ancestralidade da qual este SABER emana. Muitas linhagens diferentes foram contatadas por estas pessoas que tinham em si o ímpeto de aprender mais sobre os mistérios que nos circundam e a escrever sobre isso.

Upasika¹, Aleister Crowley, Therion²; Fernando Pessoa, na multiplicidade; mais recentemente Carlos Castañeda, também conhecido como Charles Spider; entre muitos foram sondar outras realidades e acabaram encontrando de fato abordagens da realidade completamente diferentes das que esperavam.

O Xamanismo, a Magia e a Bruxaria, tal qual são concebidos e praticados hoje, sofreram profunda influência destas pessoas, pois foram elas que fizeram as primeiras traduções dos conceitos ancestrais destes caminhos para a sintaxe da nossa cultura. Quando colocados na sintaxe da nossa cultura, tais informações adquirem mesmo um caráter de revelação.

Re-Vela. Indica, alude, mas também confunde, coloca o véu novamente, pois definir estes caminhos e falar sobre eles pode nos levar a realizarmos falsas associações, re-significações e interpretações a respeito destes caminhos de acordo com nossas presunções, e a partir daí, alienar ainda mais em vez de despertar. Tanto no Xamanismo, como na Magia como na Bruxaria a primeira premissa é que só pode trilhar estes caminhos Aquele que ‘É’. Em todas as obras produzidas sobre estes caminhos vamos perceber que, de forma declarada ou subliminar, o instrutor sempre começa guiando o(a) aprendiz a deixar de ser apenas uma resultante dos condicionamentos do meio, dos inúmeros fatores que afetaram sua existência até então, para somente assim estabelecer um ‘EU’ real.

Alguns lidam com uma viagem pelas esferas da Árvore da Vida e do Tarot para este trabalho, no qual o ser, que tal caminho trilha, lida com seus medos, condicionamentos, carências, vaidades e vai se reintegrando, resolvendo sua sombra, e, então, após atravessar o abismo no qual deve despir-se para tornar-se ‘si mesmo’, emerge como um novo ser. Aquele que ‘É’! Só então começa a magia. Antes havia apenas um agitar semiconsciente da luz astral, do grande mar de energia que nos circunda e gera, ao redor de nós, uma atmosfera psíquica que pode gerar fenômenos diversos, mas que é também uma grande ilusão, Maya, um mitote³.

Este fato é muito importante. Tanto no Xamanismo, como na Magia como na Bruxaria, o primeiro passo é deixar de meramente sobreviver para VIVER, deixar de reagir para AGIR.

Esse lembrar de si, esse resgatar a nós mesmos e ir além das ilusões que aí estão, é a condição básica para que haja Xamanismo, Magia ou Bruxaria.

Xamãs, Magistas e Bruxos(as) são homens e mulheres que antes de mais nada, ‘SÃO’. Para poderem operar efetivamente no domínio desses caminhos têm que ‘SER’, ou serão destruídos quando as fronteiras da realidade se expandirem. 

A VONTADE é o começo de tudo, a mais fundamental conquista que um(a) Xamã, um(a) Magista ou um(a) Bruxo(a) deve ter realizado para não ser destruído pelos poderes e esferas com as quais pretende interagir. VONTADE em um contexto diferente do comumente expresso. Não tem nada a ver com desejo, volição ou qualquer outra forma de expressão que conheçamos.

Tanto quem trilha o caminho do Xamanismo como da Magia como o da Bruxaria sabe que VONTADE aqui tem outro sentido, outro significado. É a forma pessoal que cada um tem de expressar um poder muito maior, que é a própria ‘VONTADE da Eternidade’ que nos circunda.

Só quem ‘É’ pode ter VONTADE. Este é um sentido que escapa a muitos leitores das obras de quem esteve estudando esses caminhos e sobre eles escreveu. 

Vejam Crowley: 

“Faze o que tu queres…”

Esse ‘Tu’ é um conceito complexo. Indica que existe alguém de fato, e não apenas um aglomerado de estilos de emocionar-se, raciocinar e reagir ao qual nos referimos como ‘eu’.

Lendo Erva do Diabo e Uma Estranha Realidade, milhares de pessoas pelo mundo ficam a vagar erraticamente ao se super estimularem com plantas de poder diversas, crendo que o ‘espírito da planta’ vai lhes revelar algo que não sabem. Mas o cerne abstrato do aprendizado ali era outro. Tudo ali estava sendo usado como meio de trabalho por alguém que tinha maestria na ARTE. Assim ficar preso em leituras literais de qualquer obra que toque a ARTE é como ser um fundamentalista e basear sua vida em interpretação literal de textos adulterados que foram escritos em outra cultura.

O que chamo atenção, é que, antes de atabalhoadamente irmos a definições e diferenças entre Xamanismo, Magia e Bruxaria temos que repensar nossos paradigmas. Nossas bases conceituais sobre as quais assentamos nossa compreensão de mundo. 

Uma condição fundamental é compreender que quando estamos falando de XAMANISMO, MAGIA e BRUXARIA no contexto dessas linhagens que tem de fato ligação com a ARTE, existem pontos muito interessantes de semelhança entre ambas que tem sido deixados de lado. Vamos a eles.

O primeiro deles é o fato que todo caminho que leva a ARTE começa por auxiliar o ser que trilha tal caminho a se desvencilhar do pesado passado que carrega consigo, da insana absorção em conceitos prontos e de condicionamentos estáticos que foram implantados em cada ser humano nesta Era de escravos em que vivemos.

Aqui tocamos em um ponto sensível. Todo sistema feitor de escravos sempre lutou arduamente para destruir tudo ligado ao Xamanismo, Magia e Bruxaria. Por quê? Por serem caminhos de LIBERDADE. Aqui temos outra definição importante. O Xamanismo, a Magia e Bruxaria sempre foram caminhos de homens e mulheres livres. Que alguns desses homens e mulheres tenham caído em formas de prisão muito mais sutis e perigosas que a prisão deste mundo ao tentarem se aproximar da ARTE é um fato. O qual alerta a todo praticante que arrogância e presunção são estilos de comportamento que nos dirigem diretamente para as iscas que existem no vasto mar que vamos descobrindo quando nos dedicamos a ARTE.

Tanto o Xamanismo como a Magia e a Bruxaria apresentam diversas formas de manifestação. Existem também muitas formas de cultos que nada têm a ver com a essência do Xamanismo, da Magia e da Bruxaria, mas que, ainda assim, se apresentam como tal.

Temos, no tocante da Bruxaria, o agravante de ter sido fortemente deturpada pelas falsas acusações e testemunhas sob o terror de tortura, ou mesmo sob a ameaça dessa. Criando fantasias sem fim que serviam bem aos propósitos dos que desejavam incitar o medo contra tais práticas e conhecimentos. Na Magia temos deturpações como ‘magia negra’. Criação também da Inquisição que ainda hoje assusta a tantos. No Xamanismo, temos um grande número de índios que imitaram formas de agir sem compreender a essência dos verdadeiros xamãs, e assim, repetem hoje ritos e formas, mas sem o poder que caracteriza toda ação de fato xamânica. Mas além destas deturpações temos o XAMANISMO de fato, a MAGIA de fato e a BRUXARIA de fato, sobre estas facetas da ARTE é que falamos aqui. 

Nuvem que Passa - 28/01/2001

Notas

¹ Upasika Kee Nanayon ou Kor Khao-suan-luang foi uma upāsikā (devota e seguidora autodidata não ordenada da tradição búdica theravada) tailandesa de Ratchaburi (1901 – 1978). Após sua aposentadoria em 1945, ela transformou sua casa em um centro de meditação com sua tia e seu tio. Suas palestras e poesias sobre o Dharma eram amplamente divulgadas. Tornou-se uma das professoras de meditação mais populares da Tailândia. Muitas de suas palestras foram traduzidas para o inglês por Thanissaro Bhikkhu, que a considera “indiscutivelmente a principal professora do Dharma na Tailândia do século XX”.

Upasika também é um dos termos que os Mestres ou Mahatmas usavam para referirem-se à H.P. Blavatsky. A influência de Blavatsky foi e é enorme para a cultura ocidental dedicada ao estudo das tradições antigas do Oriente. Fundadora da Sociedade Teosófica, escritora da obra "A Doutrina Secreta", dentre outras. Upasika = servidora, aquele que serve.

² Therion (thēríon) (grego: θηρίον, besta) é uma divindade encontrada no sistema místico de Thelema, que foi estabelecido em 1904 com “O Livro da Lei” escrito por Aleister Crowley.

³ Mitote, segundo Dom Miguel Ruiz, autor do livro "Os 4 Compromissos":

"Toda a sua mente é um nevoeiro que os toltecas chamam de mitote. Sua mente é um sonho em que mil pessoas conversam ao mesmo tempo, e ninguém entende o outro. Essa é a condição da mente humana — um grande mitote. Graças a ele, você não consegue enxergar o que realmente é. Na Índia, o mitote é chamado de maya, que significa “ilusão”. É a noção pessoal do “Eu sou”. Tudo em que você acredita sobre si mesmo, sobre o mundo, todos os conceitos e programas que você tem na mente, todos formam o mitote. Não conseguimos ver quem realmente somos; não conseguimos perceber que não somos livres."

⁴ É muito difícil compreender esse ponto relativo ao SER, pois como alguém que não é pode vir a entender o que É? A simplicidade das palavras aqui pode ser muito enganosa. Talvez uma história possa nos ajudar a entender esse ponto. A história está no último capítulo de Viagem a Ixtlan, trata-se do encontro de Dom Genaro, benfeitor xamânico de Carlos Castaneda, com o aliado, entidade de natureza inorgânica que auxilia o xamã em suas atividades. Para SER é necessário que haja em nós um centro de gravidade permanente, um núcleo ao redor do qual o SER possa se estabelecer e este é mesmo um dos objetivos do TRABALHO sobre si.



quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Disciplina - 2ª parte: Carlos Castaneda e Xamanismo

Está você a ponto de entrar em uma área do conhecimento humano que apresenta uma concepção do homem e do universo completamente diferente da que tradicionalmente você conhece e aceita.

A origem desses conhecimentos atribui-se aos Toltecas, um povo indígena que habitou a parte central do México em tempos muito remotos.

***Salvo engano, Dom Juan dá um sentido diferente ao termo Tolteca, um sentido bruxo e não antropológico, referindo-se ao mesmo como significando o "homem de conhecimento".

Esse povo indígena existiu talvez a centenas ou milhares de anos antes da chegada dos espanhóis à América.

Seu conhecimento era passado de geração à geração, entre pequenos grupos, formados por pessoas que devido a sua disciplina eram conhecidos como guerreiros.

Que por sua vez eram guiados neste conhecimento por um líder denominado de o Nagual.

Foi um indígena yaqui chamado Dom Juan Matus, que morava distintamente em Sonora, Oaxaca e Tula, quem revelou este conhecimento a um antropólogo chamado Carlos Castaneda.

Dom Juan era o líder, o nagual de sua geração de guerreiros.

Carlos Castaneda era o cientista social que a partir de seu conhecimento acadêmico, completamente ocidentalizado, acreditava inicialmente estar tratando com um indígena inculto e cheio de superstições.

Até que através da experiência direta dos conceitos toltecas compreende que tal conhecimento é tão real que decide revelá-lo.

Carlos Castaneda durante seu aprendizado com Dom Juan teve que passar por várias etapas que iam desde a negação completa de tais possibilidades até o pleno convencimento de que tais possibilidades eram fatos reais e verdadeiros.

Existem duas formas pelas quais Carlos Castaneda nos faz partícipes de seus descobrimentos. Através dos doze livros escritos ao longo de trinta anos e por meio de uma série de seminários onde são ensinados uma série de movimentos chamados de Tensegridade ou Passes Mágicos.

Nos primeiros seminários Carlos Castaneda denominou esta MUDANÇA que ele deu ao conhecimento tolteca como uma NOVA TRILHA.

Nessa NOVA TRILHA não tem nada a ver com a experimentação de plantas de poder. Os praticantes atuais devem adotar novos procedimentos, diferentes daqueles adotados em seus primeiros livros.

Este conhecimento poderia ser enquadrado como misterioso.

Alguns o chamariam de Xamanismo, outros de Bruxaria, porém talvez o conceito que nos poderia dar uma compreensão do mesmo, seria considerá-lo como o conhecimento das peculiaridades de nossa ATENÇÃO.

Nós não aproveitamos todo o potencial contido em nossa ATENÇÃO. O que chegamos a descobrir no fundo deste conhecimento é que nossa ATENÇÃO, pode abarcar mais do que imaginamos.

Existem muitos conceitos neste conhecimento. Podemos citar alguns como o diálogo interno enfocado na auto-reflexão do eu, o silêncio interno para combater essa reflexão, Espreita, "Sonho", outras realidades perceptivas, etc...

Porém o elemento comum que encontramos em todos os conceitos é o conceito de ATENÇÃO.

Nossa ATENÇÃO se mingua ou se enfraquece quando o processo mental que conhecemos como pensamentos, só a enfoca em determinados elementos de nossa forma de vida atual (a satisfação de nossos desejos e a contínua exaltação do ego).

Outro dos elementos que influem de maneira decisiva em nossa atual forma de perceber é que nossa ATENÇÃO requer mais ENERGIA para poder perceber outras realidades que existem e que são possíveis para o ser humano.

Talvez outra forma de descrever este conhecimento é que o conhecimento tolteca é a DISCIPLINA DA ATENÇÃO e seus praticantes são os guerreiros da ATENÇÃO.

Um ser humano com baixo nível de ATENÇÃO só pode estar enfocado na auto-reflexão, enquanto outro com maior nível de ATENÇÃO, pode enfocar esta em outras particularidades de sua existência.

O despertar das potencialidades de nossa ATENÇÃO pode nos assustar e não ser nada agradável para muitos.

Estamos educados em todo um conjunto de valores pré-estabelecidos e é normal que o desconhecido nos gere medo.

Podemos dizer que esse conhecimento permite DUAS alternativas aos que o sigam.

Primeiro: aquelas pessoas que sigam as premissas do "caminho do guerreiro", todo um conjunto de normas de conduta e pratiquem Tensegridade, podendo assim redistribuir e guardar energia, que lhes permitirá viver uma vida mais plena, mais produtiva, com mais paz interna. O seguir o caminho do guerreiro não implica em ter nenhum tipo de percepção desconhecida, pois por si mesmas não são suficientes.

Segundo: Para aqueles que se decidiram a ir mais além e explorar as peculiaridades de nossa ATENÇÃO e que, portanto, tem que encarar essa disciplina como uma forma de vida, onde é necessário empregar muitos esforços, como seguir "o caminho do guerreiro", realizar a recapitulação, executar os passes mágicos, guardar a energia sexual, guardar a energia que se gasta em nossas reações emocionais compulsivas, intentar permanentemente o silêncio interno e estar decididos a enfrentar o desconhecido.

Essa segunda alternativa requer disciplina total, uma tenacidade de aço, uma paciência sem fim e como Don Juan diria, "temple de acero". E mesmo que sigamos todos esses pré-requisitos não há garantia de que logremos algum tipo de percepção diferente das usuais. Talvez o ponto final para poder lograr a percepção de outras realidades é a IMPECABILIDADE que tem que ser uma indispensável norma de conduta nesse caminho.

Por último, esse caminho promove o bem-estar físico e mental. Se depois de conhecer um pouco ou muito deste conhecimento alguém sente que não deveria segui-lo, então que não o faça. O que menos necessita qualquer pessoa é uma obsessão que lhe produza problemas ou dano mental.

Texto originalmente em espanhol extraído de um site na internet de autor desconhecido.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

A Deusa sem intermediários / Deusa, Paganismo e Ecologia

Existe um estudo muito sério a respeito do Messianismo¹. Vivemos isso não só nas religiões, mas também na política. É um vício existencial terrível ficar esperando que o Messias salvador venha resolver todos os problemas. A questão desse personagem central passa justamente por essa armadilha.

No Cristianismo o caso é mais sério. Se você provar que Jesus não existiu, acabou o Cristianismo(ver o polêmico e instigante documentário Zeitgeist, no link). Todos os preceitos morais, toda a ideologia cristã depende terrivelmente dessa figura central. Para os católicos e cristãos fundamentalistas a dependência é ainda maior: Jesus morreu para salvá-los, assim qualquer alteração na história de Jesus, como as tradições que dizem que ele não morreu na cruz, que foi tirado antes e foi morar na Índia, onde tem até um túmulo que alegam ser dele, destrói completamente a base dessas religiões².

O Budhismo é um caso mais complexo. Como o Cristianismo, o Budhismo se desenvolveu em muitas e diferentes seitas. Temos desde escolas filosóficas como o Zen até Escolas que acreditam que basta você ficar cantando uns mantras e chamando um certo Budha ( existiram vários além do histórico Sidarta Gautama) e vc está "salvo". O Espiritismo Kardecista quando surgiu não tinha linha filosófica clara. Existem uns escritos de Madame Blavatsky nos quais ela comenta que o espiritismo é tão confuso que iria acabar adotando o Cristianismo como base religiosa... E foi o que aconteceu.

Esse papel torna Kardec um codificador, mas não o coloca numa perspectiva histórica, no mesmo patamar de Jesus ou Gautama Budha, ou Maomé, ou Krishna. Esses seres que cito foram seres semidivinos, seres cercados de uma aura que os colocava num nível muito particular. Jesus é o filho de um Deus tribal, o Deus dos judeus, que foi imposto como Deus universal. É engraçado notar esse equívoco tremendo, quando colocam um deus tribal no lugar do conceito de Divindade Cósmica e chamam esse deus tribal de deus único e consideram esse arremedo de monoteísmo uma evolução, em relação ao panteísmo que sente a divindade em todas as manifestações da natureza ou ao politeísmo que cultua várias divindades.

O Budhismo tem uma perspectiva inicial diferente: Sidarta Gautama é um homem comum, como nós, que realiza o despertar e DESPERTANDO se torna o BUDHA, que quer dizer desperto. Ele não é diferente de nenhum outro ser humano e seu caminho pode ser trilhado por qualquer um. Enquanto Jesus "morre para salvar seus fiéis", mantendo antigas práticas mágicas do "cordeiro sacrificial", Gautama ensina um caminho para que qualquer um que se dedique também desperte.

Quando nos aproximamos da Wicca não vamos encontrar nenhum conceito de "salvação por procuração" fixado em um ser humano. Se notarmos com atenção a Religião da Deusa nunca desapareceu completamente. Esteve hibernando, esperando que o inverno árido espiritual que caiu sobre esta parte do mundo passasse, com toda sua terrível perseguição, principalmente às mulheres, que se dedicavam à ARTE.

Gardner tem acesso a uma antiga linhagem que sobrevive de forma discreta e pode então lançar as bases do que vai ser um "renascimento" público da Wicca e, por tabela, de várias outras formas de Paganismo (livro no link: A Bruxaria Hoje, por Gerald Gardner).

O que mais caracteriza o Paganismo em geral? A sintonia com a Natureza, o reconhecimento da divindade em cada momento da Natureza, o reconhecimento desse elo profundo e intransferível que temos para com a Natureza e a percepção que a Divindade, a Eternidade que nos envolve é feminina. Este aspecto é muito interessante e traz de volta uma questão muito séria. Não se trata de um simbolismo, não se trata, como querem alguns, que os "primitivos" consideravam a mulher um símbolo melhor para a Divindade. Aliás, é mesmo um símbolo mais rico, pois a mulher gera, assim a Deusa "emana" a criação de si, ao contrário das divindades patriarcais que precisam "criar", "modelar em argila" e outros subterfúgios mais para quem não tem útero. Não é mero símbolo, é muito mais que isso, de fato a Eternidade que nos envolve É FEMININA.

E isso não é apenas na Wicca, não. O Xamanismo em várias versões coloca isso da mesma forma. Vivemos num universo feminino e num planeta feminino. Isso não desmerece o homem e o masculino. Até pelo contrário, explica porque ficamos nesta condição de "reis da cocada preta", pois sendo uma energia mais rara na existência ganhamos uma proeminência que podia ter sido usada de forma bem mais inteligente e criativa que o criar dessa civilização doentia de valores pseudo-patriarcais na qual estamos inseridos.

Assim sendo, na Wicca não temos "avatares" de destaque que representam "guias" no caminho. Nosso contato é direto com a Deusa e suas várias faces, nosso trabalho é direto com a Fonte. Gardner e tantos outros são "expoentes" da ARTE, pessoas sérias que ao dedicarem-se ao estudo profundo da ARTE nos auxiliam a compreender melhor sua complexa simplicidade.

A Deusa tem várias faces e também é a SEM FACE, pura essência, que está em nós e em cada fenômeno e evento com o qual interagimos. Há uma tradição interessante, hoje quase perdida, que conta que na senda iniciática o(a) aprendiz começa por conhecer as 3 faces da Deusa: A Menina, a Mulher e a Anciã. As 3 fiandeiras que tecem o destino de todos. Então, quando está pronto(a) o(a) aprendiz é levado a conhecer a face escura e secreta da Deusa, sua face negra.

Após esse momento o(a) aprendiz compreende os Quatro Cantos do Mundo e seu desafio agora é ser o Quinto ponto, o centro, após conhecer as quatro faces da Deusa é momento de ser a Quinta Essência, a quinta face, manifestar a Deusa em SI. Quando realiza este quinto momento, quando sente e "É" a Deusa em si olha para Cima e para Baixo e encontra a Deusa nos Céus e na Terra que pisa. Realizou o Sexto e o Sétimo passo em seu caminho. É então que encontra o Oito, o infinito e todas as barreiras caem, descobre que todas as imagens que usava para representar a Deusa eram ainda pálidas aproximações da realidade, caem as máscaras e podemos então SENTIR a Deusa em SI mesma, em toda a plenitude de seu poder.

Se isto é realizado, estamos prontos para entrar na nona esfera de iniciação e então conhecer o Mistério além do Tempo, além do Espaço. E então voltamos a ser unidade ao lado do Zero, 10. Nós, a unidade, fortalecidos e "potencializados pela Orubós sem fim, a Deusa que nutre de si mesma, a Existência cíclica. Na Wicca, como em outros ramos profundos do Paganismo, não precisamos acreditar em avatares dos Deuses ou da Deusa, em pessoas que criaram dogmas e regras, que tem seu papel sim, no começo do caminho, para evitar confusões, mas como aquelas rodinhas que usamos para aprender a andar de bicicleta, podem virar uma dependência limitante se não temos a coragem de quando estamos prontos, tirar tais rodinhas e andar sem as mesmas, com a certeza que se não estivermos de fato prontos, o tombo vem.

Nosso elo é direto com a DEUSA e seu Consorte, com a VIDA, e a Vida só se revela sendo vivida. Qualquer teorização excessiva é sempre sinal de fuga da vida em si, real e efetiva, para ficar justificando com elaborações racionais.

Por: Nuvem que Passa em Domingo, 04 de Agosto de 2002 - 21:17:59 (Brasília)
Notas (por F. )

¹ Um dos estudos mais sérios é o trabalho da socióloga brasileira Maria Isaura Pereira Queiroz

² ver o documentário Jesus viveu na Índia, lembrando que Jesus tinha um irmão gêmeo, Tomé, o dídimo. Dídimo tem origem grega, provém do nome Didymos, que significa literalmente “gêmeo”, “nascido do mesmo parto”, de dís, o mesmo que “duas vezes”, em português.


Deusa, Paganismo e Ecologia


Realmente este texto é uma das mais belas manifestações do espírito nativo dos povos que habitavam este continente.


Quando o pretenso civilizado aqui chegou e impôs sua cultura, impôs a ferro e fogo, com morte e dor, encontrou aqui uma cultura complexa, de valores ecológicos sofisticados como bem mostra esta carta. A sintonia com a Vida e com a Terra, vista como Mãe, é algo que nós neopagãos bem entendemos. Este é o valor mais ausente desta cultura utilitarista e consumista que se instalou no mundo: Não conseguem sentir a Vida pulsando em tudo à nossa volta, perderam o elo com a Mãe Terra, ser vivo e dinâmico, com o qual podemos criar uma relação que nos permite um grau de completude, de plenitude existencial e energética inominável.

Um dos riscos que vejo na Wicca hoje é uma adoção de um culto formal à Deusa, fazendo aquilo que tantos chamam de criar um "jeová" de saias. Sem a consciência ecológica não há ligação com a Deusa. Sem a mudança dos paradigmas fundamentais nos quais fomos criados, que não são ecológicos, não levam a uma relação direta com a divindade sem intermediários e sentindo faces da divindade em cada aspecto da existência. Sem esses pontos-base não há paganismo. Sem perceber a Deusa na natureza e na vida como um todo não há paganismo efetivo. É minha opinião que os cultos a uma "personalização" da Deusa pouca relação tem com "sentir" e "celebrar" a Deusa, que sempre foi sentir e celebrar a própria vida em seus ciclos. Uma pessoa que se diz pagã e não possuí aguda, clara e intensa consciência ecológica é alguém diletante, alguém que apenas repete formas prontas, sem entender a essência. Pois como estar em um movimento que busca ser uno com a vida sem ter essa consciência ecológica plenamente desenvolvida? Este me parece o primeiro ponto.

Segundo ponto a debater é a questão de sentir a Deusa. A percepção da Deusa sem faces, da Deusa enquanto origem e fonte sempre foi um conhecimento iniciático. Pelo que pesquisei nenhum culto "popular" tinha essa concepção. Sempre neste nível mais "exotérico" o culto era a uma das faces da divindade, da Deusa. O conceito da Fonte sem Fonte, da Deusa sem face sempre esteve associado aos trabalhos já dentro dos chamados mistérios. Estes dois níveis da religiosidade antiga nunca podem ser esquecidas quando falamos sobre os cultos ancestrais, os cultos abertos ao público e portanto os únicos que deixaram registros possíveis de serem estudados pelos historiadores tinham um outro aspecto, secreto, oculto, transmitido apenas de boca para ouvido e que sobrevive até os dias de hoje dentro destas mesmas premissas, pois me parece uma das grandes ilusões contemporâneas crer que o secreto e o sagrado estão revelados. Aliás podem até estar, já que etimologicamente revelar é velar de novo. RE-velar. Mas nunca o sagrado, o segredo, os mistérios serão revelados neste sentido que dão ao termo, pois não é o mistério que pode ser aberto à compreensão limitada de quem apenas foi condicionado pela sociedade, mas somos nós que temos que nos desenvolver, sutilizar e ampliar nossa percepção para mergulhar na vastidão onde reside o secreto e o sagrado. Como a cor só se revela a alguém quando este alguém abre os olhos, não há como falar sobre cores a quem insiste em manter os olhos fechados.


O esoterismo contemporâneo, ou, melhor dizendo, o que se convencionou chamar de esoterismo hoje, é um conjunto de idéias que remete ao transcendente, mas ir ao transcendente é algo para ser feito com plenitude, jamais apenas como conceito intelectual. Da mesma forma, o paganismo é algo que hoje precisa ser recuperado. Não está em nós, criados como civilizados, de forma "natural". Por isso gosto do termo “neopagão”, fica claro que somos pessoas com toda uma influência cultural urbana, que pouco a pouco lutam para recuperar uma abordagem mais plena e realista da vida, que inclui o perceber da Vida em sua plenitude e da natureza como ser vivo e do qual fazemos parte. Por isso, lendo esta carta do chefe Seattle a gente volta a notar como são distintos e distantes os paradigmas da cultura que fomos criados e destes povos nativos.

Nossa chance é de hibridação, de fusão entre estas culturas. Quando notamos o que aconteceu de fato aos povos nativos, como foram subjugados e quase completamente destruídos percebemos que algo falhou em termos práticos, na realidade da luta pela continuidade existencial algo não foi pleno neles, pois perderam a guerra para este modelo cultural no qual fomos também limitados. Este é um dos pontos mais fundamentais quando vamos estudar o paganismo em geral. O Paganismo, embora tenha as melhores respostas para a sobrevivência efetiva da humanidade, uma vez que os modos de vida do mundo civilizado nos levam a esta crise ecológica e social sem precedentes históricos que vivemos, não conseguiu resistir à invasão, saque e genocídio, acompanhados de destruição da cultura, subjugação e imposição de um modelo cultural estranho que aconteceu onde quer que os conquistadores chegassem com seu estilo de vida. Das legiões romanas aos navegadores cristãos católicos e protestantes dos séculos XV e XVI o fato é o mesmo: destruição de povos nativos com ricas e milenares tradições seguidas da imposição de uma cultura servil aos dominadores. Portanto, há algo que os povos nativos precisavam aprender em termos reais de sobrevivência frente a grupos outros que não os seus.

O irônico é que o grupo social vencedor, até agora, nesta guerra entre nações, não é o mais apto à sobrevivência, ao contrário, apresenta mesmo um comportamento danoso e perigoso a si e a todos os outros grupos de seres vivos da Terra, pois em sua loucura e luta pelo poder constrói armas cada vez mais nefastas, já suficientes par acabar com o mundo num nível alarmante, fora as tecnologias pesadas e poluentes que adotamos em nosso cotidiano, com um total desrespeito à vida e as próximas gerações. Daí que considero que o Paganismo é revelado antes de mais nada pela prática que pelo discurso. Discursos verborrágicos, cheios de erudição não fazem de ninguém pagão. O paganismo vem da realidade prática, que pode e deve mesmo, ser embasada por um bom conhecimento da teoria do que se faz, mas é no fazer que se revela. Paganismo é atitude.

Nuvem que passa


sábado, 23 de dezembro de 2023

Cada caminhante é em última instância seu próprio caminho

Saudações Ventanias; 

Em mail anterior prometi falar um pouco sobre as origens do Xamanismo em termos históricos. O que vou narrar aqui é história como os (as) xamãs entendem história, não uma narrativa linear de eventos, mas o cerne do interesse dos (as) xamãs é algo sutil, é sobre a manifestação de uma força misteriosa, com a qual lidam todos que buscam a "alma do mundo". 

Leio muitos mails, dos mais diversos, diariamente. Mais jornais e livros e conversas com pessoas e cursos, dá para ir formando uma ideia de como é o "senso comum " da realidade. As pessoas do mundo "comum" foram condicionadas a uma percepção da realidade, por um conjunto de condições históricas que culminou na revolução industrial. Com a ocorrência da revolução industrial há uma produção de manufaturados em larga escala, uma necessidade de matéria prima também em grande quantidade, uma necessidade de que pessoas comprem o que está sendo produzido, enfim, as necessidades da revolução industrial criou toda uma era, a Era Industrial. 

Estudiosos como Toffler, Domenico de Masi, Giovanni Vismara, A. Touraine, Gershuny e tantos outros(as) já falam sobre o fim da Era Industrial e a transição que estamos vivendo para outra Era, outra "Onda " no dizer de Toffler. A revolução industrial, entretanto, ainda representa um conjunto de valores que dominam muitos setores da sociedade, inclusive a mídia e algo que tem poder sobre a mídia tem o poder de vender a própria imagem como quer. Esse poder da mídia é um tipo de magia moderna que muitas vezes passa despercebida.

 Existem pessoas que sabem usar do poder da mídia para criarem frente ao mundo uma imagem, isso é magia, criar, gerar algo por intenção. Este poder da mídia associado a religião, escola e educação familiar são vetores eficientes de conceitos e paradigmas da era industrial. Cada um desses conceitos e paradigmas são limites a nossa percepção. E são esses limites perceptivos que precisam ser investigados e compreendidos para que possamos não apenas deixá-los de lado por um tempo, mas realmente nos tornarmos entes perceptivos e singulares, gerados a partir de nós mesmos, de nosso cerne silencioso, intocado por qualquer programação exterior. Dessa forma vem a memória um dos conceitos importantes sobre xamanismo que o velho nagual apresentou ao novo, no mito tolteca atual: " Não é que a medida que o tempo passa o(a) guerreiro(a) aprenda Xamanismo; antes, o que ele aprende enquanto o tempo passa é economizar energia . Esta energia vai capacitá-lo a manipular alguns campos de energia que são normalmente inacessíveis a ele. Xamanismo é um estado de consciência , a capacidade de usar campos de energia que não são empregados para perceber o mundo cotidiano que conhecemos" (de "O Poder do Silêncio" citado no "A Roda do Tempo". 

Este conceito é de uma sutileza e abrangência fenomenais, a capacidade de exprimir em sintaxe comum tais conceitos revela uma maestria das palavras que é bem mais que a expressão entre dois seres perceptivos e conscientes, mas algo mais mesmo, algo relativo a essa estranha "Força" que permeia a Realidade mais ampla , na qual estamos inseridos, como uma camada em vasta cebola. O Xamanismo tem sido sempre isto, ir mais longe, ir além, ser mais amplo, ampliar a consciência. Os meios que podem ser utilizados são vários e 

cada caminhante é em última instância seu próprio caminho.

Dentro desta proposta o Xamanismo é a herança que temos de uma civilização anterior que existiu num outro tempo e outro espaço, mas que nos antecedeu. Os clãs de vários lugares tem história sobre um mundo anterior a esse, o quarto mundo de onde nossos antepassados vieram depois que tal mundo foi destruído. Há muitas histórias que tentaram com armas, doutrinas, pregações, medo, culpa e dor apagar de nossa memória. 

Mas o tempo mítico está voltando, as emanações de Hunab Ku voltam a incidir sobre nosso plano da realidade. Estávamos como que em um eclipse, em relação a Hunaby Kü, agora outro tipo de energia começa a incidir sobre nós. Nós sabemos disso, mas os Senhores e Senhoras Feudais atuais também sabem e seus feiticeiros de aluguel estão cuidando , através de meios com títulos sofisticados como "engenharia religiosa", " engenharia e gestão de comportamento de massas" entre outros, desenvolver linhas de ações por todo o planeta para evitar que no momento da grande transição, em "aproximadamente" 23 de Dezembro de 2012 façamos a conexão com o vasto poder que vai estar, como uma nuvem, passando por aqui. Se esta conexão for feita estamos reconectados com o Centro Galáctico, com a vasta energia que de lá emana e teremos entrado noutras possibilidades realizadoras em termos efetivos e concretos, no TONAL da Realidade. 

Mas as possibilidades que se abrem no outro campo é também imensa, pois sabemos que o campo adequado para se "treinar" no Nagual é o campo análogo ao tamanho do poder do Tonal sobre a realidade. O velho nagual mostrou isso ao grupo do México levando-os em excursão para um vale distante e lá colocando uma mesa com objetos em cima e usando tal mesa para demonstrar o Tonal, frente a vastidão do Nagual, quando foram a uma montanha longe olhar a mesa, imperceptível, no meio do vasto vale. Recomendam os Naguais da linhagem Tolteca que não nos percamos tolamente no mundo do Nagual, ou seja, em todas as outras realidades alternativas a essa que realmente existem. Este é um detalhe muito sutil no Xamanismo. 

Xamanismo é simplesmente usar o corpo esquerdo para perceber a realidade de forma funcional e ampliar a capacidade do corpo direito para o mesmo fim. Agora a nossa "personalidade", nossa estrutura psíquica frente a tudo isso que podemos fazer é algo que pode ou não ser cultivado. Podemos nos trabalhar, aprender a lidar e ir além das carências e medos, fantasias e culpas que o sistema criou como travas para impedir nossa liberdade por isso o Xamanismo Guerreiro não começa com "caçar animal de poder" ou ir a outros mundos e tudo mais que pode ser sim feito e deve, depois. 

Primeiro é preciso trabalhar o aqui e agora, pois tenho tido cada vez mais certeza na minha experiência pessoal que toda pessoa que consegue se realizar aqui e agora, que consegue lidar com o imanente está pronta para a aventura e o desafio que é suportar a pressão do desconhecido, já quem vive sempre fugindo em universos fantasiosos e explicações rebuscadas de sua preguiça em lidar com o aqui e agora, sempre criam problemas, confusões e acabam cedendo as pressões do infinito se tornando seguidores de algum sistema ou seres, não livres viajantes pela eternidade, que é como concebo o Xamanismo. 

Alguns temas para meditar.

Nuvem que Passa

Data: Ter Dez 26, 2000 6:04 pm

Assunto: Re: [ventania] Natal e Calendários

 

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

A Obra do Nagual, por Nuvem que passa


"A obra de Carlos Castañeda poder ser considerada como uma das obras mais interessantes e revolucionárias de nosso século. Ali conceitos completamente novos são apresentados, abordagens realmente novas da realidade e da nossa percepção das mesmas, são apresentadas lado a lado com conhecimentos similares a encontrados no Taoismo, certas linhas de budhismo, islamismo, hinduismo, cristianismo, judaísmo chamadas de "esotéricas". 

Existe um livro que tenta provar que Castaneda não viveu nenhuma das experiências que narra, o background espaço temporal que ele usa como contexto para expor os conhecimentos ali liberados pela primeira vez fora dos fechadíssimos, discretos e ciosos grupos que exploram há milênios esse mesmo saber. 

Para alguém que ensina a ausência de história pessoal nada mais coerente que ter um livro publicado por um estudioso sério desmentindo o fundo "pessoal" dos conhecimentos apresentados.

O Doutor Carlos Castañeda tenta mostrar ser a América possuidora de civilizações tão complexas como as que deixaram seus sinais em outras partes do Globo. Perguntas fundamentais que resultaram como resposta à Arte, à Magia ou à Ciência oficial, em outras partes do mundo, aqui geraram formas de magia e ciência muito complexas e a dizimação quase completa dos povos nativos, ainda em curso, diga-se de passagem, não quebrou esse elo de transmissão.

Uma leitura atenta dos 3 primeiros livros nos quais este relato é mais intenso, revela que as informações chave, como os 4 inimigos daquele(a) que busca o conhecimento, tem valor intrínseco, independente do contexto em que foram apresentadas. O valor do conhecimento expresso vai muito além do contexto onde ele está inserido. Se o Doutor Carlos Castañeda estava aprendendo com o velho índio no deserto mexicano ou no parque de sua cidade ou em seu quintal em Los Angeles não é este o ponto focal. 

Mas o que me interessa bastante é que numa era de paparazzis que são de uma forma ou de outra, corresponsáveis pela morte de uma princesa do Império Britânico, num mundo onde ninguém passa totalmente despercebido, num mundo cheio de recursos, alguém que passou os últimos anos de sua vida dando seminários para mais de 300 pessoas em cada um deles, nos EUA e na Europa, não tenha mais que algumas poucas e contraditórias fotos suas. Nesta era de total invasão da privacidade em nome dessa imprensa marrom que sustenta o esporte preferido, mexericos, desde que os hábitos das cortes parecem ter contaminado nossas vidas, nesta era da imagem, quase nenhuma foto.

E depois que ele "morreu" de câncer de fígado, como Krishnamurti antes dele, em prometeica herança, o seu livro, mais vendido por meses, foi um livro chamado "Passes Mágicos" - Um livro de posturas de poder, em fotos, para longevidade e bem estar, saúde e harmonia. 

Contradição, paradoxo, os que leem Castañeda são birutas mesmo, derreteram o cérebro brincando com plantas de poder? 

O que sinto após tornar a ler a obra inteira de uma vez em duas semanas, é que estamos diante de um tratado, algo que supera grande parte dos tratados de magia escrito no século passado, embora integre harmonicamente os conceitos apresentados por muitas escolas competentes. 

De alguma forma, nunca saberemos exatamente como, C. C., também conhecido como Joe, ou como Isidoro Baltazar ou outros nomes, entrou em contato com um saber ancestral. Por anos ele conviveu com homens e mulheres que eram herdeiros diretos desse saber. 

Ponto um: nenhum desses homens ou mulheres tinham a menor intenção de criar uma seita, uma religião ou fazer proselitismo de seu saber. Eles estavam apenas perpetuando uma linhagem. Estavam dando continuidade a uma magia antiga, a uma linhagem de poder e ser que começara em tempo indeterminado, na Era mítica. Cada um desses homens e mulheres afirmaram que só como mito poder-se-ia viver plenamente o caminho que eles apontavam ao relutante aprendiz. E por ser relutante, por ser difícil ele era bastante apreciado. Num caminho onde voluntários são vistos com reservas, pois voluntários costumam acreditar que sabem o que estão procurando e deturpam o conhecimento para adaptar-se a seus padrões preconcebidos. Pois para aqueles homens e mulheres, ao menos foram homens e mulheres um dia, voluntários raramente eram bem-vindos. Voluntários têm ideias muito preconcebidas e raramente aceitam mudar realmente, não aceitam a morte que toda iniciação propõe. 

E aprendendo de uma forma muito complexa começou Carlos Castañeda a aprender com aquele grupo. E nesse aprendizado se viu ludibriado várias vezes pelo velho índio que era estranhamente inteligente e sofisticado, coisas que o preconceito acadêmico raramente permite a um "nativo". Ludibriado, pois enquanto sua atenção estava fixa em algum aspecto que lhe era colocado a frente, a verdadeira ação de D. Juan Matus, também conhecido como John Michael Abelar e Mariano Aureliano, entre outros, enquanto o verdadeiro aprendizado acontecia disfarçadamente, evitando que sua mente racional e condicionada lutasse contra tal saber, deixando que ele sedimentasse como ganho efetivo. Aprendizado complexo, pois lidava também com um outro estado de consciência que antes dele nenhuma escola esotérica explicitou com tanta clareza. Todos sabemos que estar dentro de uma escola, estar ligado a um mestre ou mestra cria uma atmosfera psíquica própria, a energia de quem ensina, quando é real, permite um catalisar do processo de aprendizagem, baixa a energia de ativação necessária para se alcançar certos resultados. 

O método proposto pela escola Tolteca é muito sutil. Num nível alterado de consciência, num nível específico, onde a lembrança do dia a dia fica mais fraca, um nível que não é lembrado no dia a dia, neste nível ocorre outra parte do treinamento do aprendiz. Aqui ele recebe conhecimentos de grande poder, conhecimentos que estarão protegidos pelo esquecimento até que o aprendiz tenha energia suficiente para acessar tal nível por si. Por isso ler a obra de C.C. implica em compreender que tudo que é apresentado tem uma complexidade muito maior. 

C.C. começa seu caminho público quando aparece na mídia e vira guru alternativo, padrinho da nova Era, pela exaltação dos alucinógenos¹ como caminho para se tornar "um homem de conhecimento". Quando chega em Viagem a Ixtlan ele muda suas colocações revelando que os aspectos mais importantes do saber que estava recebendo não eram de forma alguma as viagens que tivera sob efeito das plantas de poder. 

E coloca que partes que havia anotado e deixado de lado se revelavam agora a espinha dorsal do sistema que começava a vislumbrar atrás dos atos aparentemente malucos de seu informante índio. Um velho que, exceto por um companheiro ainda mais louco, D. Genaro, que representava ser realmente demente e capaz de fazer coisas que estarreciam a mente linear, parecia viver isolado e fora do mundo em algum ponto do México, na região de Sonora. 

Quando C.C. lançou Viagem a Ixtlan, seu trabalho de mestrado, obteve uma resposta diferente da mídia.  Pouco a pouco os meios de comunicação passaram a desgostar de sua mensagem, o governo mexicano, conhecido por uma política sistemática de extermínio dos povos nativos, ainda hoje em andamento, vide Chiapas, ficou preocupado. Os povos nativos de todo o continente pela primeira vez tinham suas reais tradições trazidas à tona, quando digo reais digo suas tradições esotéricas, não o arremedo exterior que ficou reproduzido pelos sobreviventes, exilados de si mesmos, como os africanos vieram exilados de sua terra. E neste continente, por estarem exilados de si mesmos, não puderam levar nada, nada sobrou e o mito da puerilidade dos ritos e crenças dos nativos dessas terras ganhou força. 

Mas um grupo continuou ensinando seu aprendiz sem se ocupar disso. Escrever os livros era uma tarefa que C.C. recebera de seu mestre iniciador e cumpri-la era sua missão. Viagem a Ixtlan é um livro de acesso ao Xamanismo Guerreiro. E é importante notar que estamos falando de Xamanismo Guerreiro. O Xamanismo que sobreviveu graças aos iniciados dos clãs guerreiros que sobreviveram aos massacres, primeiro de outras tribos em guerras várias, como os Astecas já um século antes da Conquista, depois dos invasores de além do oceano, que vinham para dizimar e apagar da história da ancestral civilização que se manifestava em muitas formas por todo o continente. 

O fato é que aquele grupo vem da linhagem guerreira, por isso nada mais ilusório que querer fazer proselitismo das ideias de Carlos Castañeda. A obra é o relato de uma linhagem, um partilhar de conhecimentos úteis a quem segue um determinado caminho. Como todo caminho rumo ao despertar tem muitas ideias que servem a todos que desejam uma vida mais plena e forte, mas as nuances mais importantes do processo são algo específico para quem busca o despertar na forma que os(as) xamãs guerreiros(as) consideram a mais adequada para se tornar um ser pleno quando adentrarmos outros mundos. Entrar em outros mundos, atingir outros estados de consciência com autonomia e liberdade, não como servos de criaturas ancestrais que já vivem nessas outras esferas e tem a terrível mania de nos tomar sob sua tutela, a um pesado preço: nossa liberdade. 

É nesse contexto que C.C. aprende e certo dia caminhando numa cidade do interior do México tem outro "assalto a sua razão". O caipira, o índio eremita estava na cidade grande, de terno e gravata, meias combinando como D. Juan mesmo chama a atenção. E começa uma nova fase do aprendizado. Um conceito complexo é apresentado: Tonal e Nagual. E a obra ganha nova profundidade, conhecimentos complexos são apresentados e o inusitado também entra em cena. D. Juan Matus e D. Genaro desaparecem. 

Antes disso criam um drama iniciático catártico e como ato final Carlos Castaneda vai pular num precipício voluntariamente junto com outros aprendizes, corroborando em si e por si, os ensinamentos que havia recebido. O interessante é que em toda a história subsequente a trajetória iniciática fica mais forte e os conhecimentos que acompanham a narrativa são dos mais interessantes. Carlos Castaneda justifica a publicação de sua obra como resultado de um "acidente". D. Juan quando o encontrou pensou que ele, C.C., fosse um nagual, um homem dividido, alguém com um tipo de energia suficientemente elaborada para não apenas aprender a complexa arte da magia tolteca mas também ser um guia de um grupo de xamãs.

No Xamanismo Tolteca não há mestres, gurus ou nada disso, existem apenas homens e mulheres que têm suas posições no grupo, de acordo com seus "ventos" ou conformações energéticas. O líder do grupo é um homem ou mulher que tenha uma energia extra, chamados de Naguais. Um homem ou mulher nagual, graças a sua energia extra pode ajudar o grupo a ir além da vastidão da Eternidade, rumo aos reais objetivos dos "Nuevos Videntes": Liberdade Total! Mas com o passar do tempo descobriu que C.C.não tinha energia para continuar a linhagem². Daí que C.C. e suas companheiras, só citadas nos últimos livros, resolvem publicar relatos de toda sua busca e uma parte dos ensinamentos recebidos, já que fechavam a porta dessa linhagem e não queriam que tal saber simplesmente deixasse esse mundo. Se isto é exato, se de fato ocorreu assim ou é apenas uma esperta manobra do espreitador C.C. para apresentar sua obra ao mundo e escapar da condição de messias e guru que ainda assim lhe foi imputada, fica em segundo plano. O fato é que tivemos acesso a essa linhagem de conhecimento que apresenta conceitos complexos e diferentes, ancestrais em sua origem, originais em sua forma de colocar. 

A obra do nagual - parte 2

O Nagualismo trazido ao nosso conhecimento pela obra do antropólogo doutor Carlos Castaneda apresenta temas dos mais interessantes. 

C.C. após passar por experiências intensas, como o ataque que sofreu nas mãos da feiticeira Soledad, que poderia tê-lo matado, começa a resgatar outra dimensão do seu aprendizado, que havia estado guardada em outra frequência de seu ser. Como se fosse um aparelho de rádio, C.C. descobre que além das ondas AM onde vive, mundo que chama de real, há outro mundo operando em ondas de FM. Ele vai percebendo, a princípio desordenadamente depois, pouco a pouco com mais coerência que tudo que pensava compreender de seu treinamento é apenas a ponta de um iceberg de algo muito mais complexo. 

Começo por aqui este tema para deixar claro que a obra do Doutor Carlos Castañeda não pode ser lida pela metade. Só a leitura completa da obra , todos os volumes, permitem uma abordagem mais adequada do que ele pretende transmitir. Ele esteve exposto a magistrais manipuladores dos estados de consciência que um ser humano pode alcançar e cuidaram para que a parte mais profunda e complexa de seu aprendizado acontecesse neste outro nível, em FM.

Com o auxílio de "La Gorda" ele relembra fragmentos deste mundo paralelo no qual esteve vivendo, essa vida paralela onde aprendia com todo o "grupo do Nagual" composto por 16 pessoas, cada uma depositária de um aspecto do antigo saber Tolteca, herdado e mantido por todos esses milhares de anos, bem nas barbas da orgulhosa e prepotente civilização que pretendia escravizar corpos e almas para seus fins. Cada um dos 16 integrantes do grupo era expert num aspecto do saber dos antigos Toltecas, eram elementos vivos e dinâmicos de um mito, de uma tradição. Isto é um ponto dos mais importantes para quem estuda o caminho Tolteca. Ele não pode ser criado como nós entendemos criação, ele não pode ser forjado em nossas frágeis forjas. 

Embora a herança dos Toltecas, a Liberdade Total, possa ser requerida por muitos, embora não seja necessário estar num grupo nagualístico para reivindicar acesso a herança Tolteca, um grupo Tolteca tradicional está dentro de parâmetros próprios, não aleatórios e não acessíveis a uma manipulação artificial. Embora os conquistadores houvessem tentado exterminar a antiga tradição eles falharam. Os quatro ventos, as quatro direções do mundo, os quatro pilares, enfim, o cerne do poder dos antigos nativos permanecia (e permanece), sendo transmitido em palavras e atos de poder. 

C.C. se lembra de como foi apresentado a cada uma dessas pessoas, como foi testado e trabalhado para abandonar seu falso eu, essa multidão criada pelo Sistema. Abandonar o que acreditava ser para de fato mergulhar na essência perceptiva que era e que poderia desenvolver a tal ponto que poderia ao final, transcender o apelo de morrer e entrar num estado alternativo de continuidade. 

D. Juan Matus, Genaro, Silvio Manuel, Vicente. 

Quatro homens que herdam aspectos do saber Tolteca e o ensinam a C.C. Silvio Manoel, mestre do Intento, poderoso e assustador feiticeiro no princípio para o ainda imaturo C.C. mas que vai se revelar um excelente dançarino, verdadeiro pé de valsa que ensina as companheiras de C.C., já de um grupo diferente do que é citado nos livros até então, a dançarem "a dança do intento", onde(no qual) os passes mágicos da Tensegridade, exercícios de movimento para liberar e fluir a energia em nós, são associados a dança gerando movimentos de grande poder. 

O mundo onde C.C. se vê inserido é complexo e não podemos querer encontrar aí uma textura comum a nossa "realidade" pois, embora material, este mundo está noutra camada da cebola, muito perto desta, é verdade, mas ainda assim distinto. Os conceitos que C.C. recebe de seus iniciadores e iniciadoras vem da ancestral civilização que existiu na região onde hoje estende-se o estado mexicano e algumas outras republicas sulamericanas, mais um pedaço que hoje está nas mãos dos EUA. Esta civilização atingiu seu ápice em algum momento que situa-se há aproximadamente 4000 anos de nosso tempo. Então, algo ocorreu e eles e elas se foram, para alhures. 

Os que ficaram reorganizaram o que restou desse saber e surgiu um segundo ciclo civilizatório com o saber herdado, uma Era de Prata, se chamarmos a Era do auge deste poder de Era de Ouro. Mas então chegaram os primeiros povos conquistadores. Outros povos nativos que vinham com algo diferente em sua mente. Eles só captavam AM não eram mais capazes de sintonizar em FM. Este limite era também uma proteção. Quando poderosos feiticeiros convocavam seus "aliados" e "animais de poder" muitas vezes nada conseguiam, apenas uma flechada ou bordunada e eram mortos. Muitos foram mortos e a civilização mágica caiu. Alguns poucos sobreviveram e em seu refúgio começaram a estudar porque eles haviam conseguido sobreviver e outros não. Por que a magia deles funcionara e a de tantos outros não. 

A primeira coisa que descobriram é que o que consideravam ser o plano "espiritual", um plano superior e mais forte que este era na realidade outra face da moeda, mais vasto é verdade, mas não superior. E que a maioria dos sobreviventes era do clã guerreiro, que ainda se dedicava às práticas físicas e aos trabalhos corporais, revelando que o poder a mais que tinham, o fator determinante para a sua sobrevivência, foi o poder do corpo. 

Este ponto foi fundamental para seus novos estudos, começaram a trabalhar algumas questões antigas e descobriram que resolver este mundo antes de mergulhar na eternidade é gerar condições de energia para evitar se diluir na amplitude da eternidade. Aí começaram um novo caminho, com uma profunda crítica aos hábitos de seus antepassados,  que não foram suficientes para mantê-los vivos, algo fundamental. Quando estavam no auge desse processo, duzentos anos aproximadamente após a queda de uma porção significativa das aldeias ainda resistentes ao domínio dos Astecas chegaram os invasores iberos, estes sim bárbaros e tirânicos. Sob esta condição de profunda opressão os sobreviventes forjaram seu conhecimento, exigente, disciplinado, guerreiro.

Data: Ter Mai 2, 2000 8:27 am

A Obra do nagual 3

A partir de agora o texto só vai interessar ou mesmo ser realmente compreendido aos que estudam a obra do novo nagual. O trabalho que C.C. tem em sistematizar a experiência pela qual passou e colocá-la em palavras é em si mesmo uma das mais complexas abordagens antropológicas de uma civilização em tudo e por tudo alienígena à atual. 

Culturalmente alienígena, vejam bem. 

C.C. se torna praticante, mas não deixa de ser um homem racional do ocidente, que busca explicar, que busca sistematizar o saber que lhe está sendo apresentado. Ele aplica as ferramentas cognitivas e os novos modelos de realidade que lhe são demonstrados junto com a nova "descrição de mundo" que lhe é apresentada nas questões mais fortes de nosso tempo e traz uma sutileza de abordagem da realidade na qual estamos inseridos, que distingue sua obra. 

Ele mostra que tudo é Trabalho, que nada vem de graça (Nada neste mundo é um presente. O que tiver de ser aprendido será aprendido da maneira mais dura, em Roda do Tempo, de Carlos Castaneda.). Vai concordar com Gurdjieff e outros que já haviam dito que os planos da Eternidade para o ser humano nada tem que o permita se considerar "eleito", "favorecido". O ser humano tem uma função cósmica. Ao nascer ganha a consciência. Durante a vida desenvolve e matura essa consciência. Para ao final, a força motriz e original da existência, chamada Águia ou mar escuro da consciência, receba de volta essa consciência enriquecida, imediatamente após a morte ou algum tempo depois, pois a consciência pode sobreviver em várias formas nos muitos mundos que existem paralelos a esse. 

O forte das descobertas dos Toltecas é que existe um caminho alternativo. Que existe uma chance que é apresentada de tal forma que não vamos ler abordagem equivalente em nenhuma outra obra apresentada no ocidente como reveladora da sabedoria ancestral. 

O ser humano pode, a partir de certas práticas, no decorrer de sua vida, escapar dessa dissolução e entrar num estado alternativo de consciência que é quase uma eternidade, embora ainda aqui, fique claro que há um limite. 

Esta abordagem muda toda uma concepção muito em voga nos meios esotéricos. Vidas após vidas para evoluir, para chegar a algum lugar. 

O Xamanismo Guerreiro dos Toltecas afasta toda essa ideia e coloca essa vida como única, como a mais importante e o campo onde a batalha contra nossos oponentes devem ser travadas. 

Quem são esses oponentes? 

Demônios, seres perigosos de outros mundos? 

Os mais perigosos estão em nós, são eles que podem abrir a porta da fortaleza quando o exterior tenta atacar. Se eles forem vencidos, os exteriores perdem seu poder. Aos que buscam o conhecimento quatro já foram apresentados: 

O medo, que paralisa, a clareza que cega, que gera a arrogância de tudo saber, esquecendo que num mundo em expansão o aprendizado é constante, o poder que fascina e aprisiona criando marionetes que se julgam entes poderosos quando na realidade servem os que julgam dominar e a velhice, compreendida como a incapacidade de pôr em atos o que sabemos

São inimigos constantes, nunca totalmente vencidos, sempre prontos a voltar e tomar o controle da situação. 

A importância pessoal é apontada como sua principal arma. 

Há uma estratégia fundamental nesta luta: Desmontar as rotinas da vida, para estar atento a cada momento, sem entrar no "piloto automático". 

Apagar pouco a pouco a história pessoal. 

Essas são as práticas mágicas ensinadas ao aprendiz. E embora pareçam a alguns tolas, quem ousa realizá-las compreenderá que esteve tecendo sua capa mágica, que esteve forjando sua arma mágica, que se chamará Implacabilidade e também esteve trabalhando seu escudo, a ausência de importância pessoal, que tem sua chave na ausência de piedade por si mesmo.

Quando a estratégia da ação abrange o ser implacável, paciente, astuto e gentil, sabe o aprendiz que chegou num ponto decisivo. 

Sua energia acumulada expulsa sua percepção da condição "normal" que até então era mantida. 

Surge um desassossego.

O mundo não é o mesmo, não é mais satisfatório, há algo que te chama além. O chamado do infinito tem vários nomes em cada cultura , mas o fato é que quem já o ouviu nunca mais irá ficar tranquilo se ceder a mediocridade de uma vida conformada ao cotidiano. 

O chamado do infinito tem a estranha habilidade de despertar em nós um senso crítico interior que sempre nos dirá, quer queiramos saber ou não, se continuamos fazendo do dom da vida um caminho para a liberdade ou se voltamos e cedemos e nos vendemos por algum preço ou conforto, ao sistema, à "Matrix".

C.C. percebe que foi isso que aprendeu e aprende que seu campo de batalha era o mundo das cidades, os lugares onde ia, onde estudava, era ali que deveria aprender a aplicar tudo que aprendeu e atingir a condição singular, onde tudo que havia herdado lhe ajudaria a ser ele mesmo, um evento conectado ao infinito, mas único. 

Como um vetor resultante que subitamente deixa de ser apenas o resultado de todas as forças exercidas sobre o móvel, mas se torna uma força ele mesmo, uma força nascida de si mesmo, uma vontade plena. 

C.C. experimenta muitas possibilidades de aglutinar mundos. Vai a muitos lugares diferentes e explora o mistério do ponto de aglutinação, conhecimento de um ineditismo ímpar. Não há conceito similar a esse em outras obras e cito isso aqui para que todos percebam que estamos diante de um conceito "novo", algo raro nessa era de reedições e releituras. 

O ponto de aglutinação será nosso próximo tema.

Nuvem que Passa

Notas

¹ O termo alucinógeno não é adequado, pois não se trata de alucinações, mas de estado alterados de consciência nos quais pode-se interagir com outras realidades de uma forma funcional e pragmática na busca por conhecimento e energia. Uma alternativa poderia ser o termo enteógeno, que nos remete a uma jornada interior pela qual exploramos aspectos mais vastos de nosso ser envolvendo outros aspectos da consciência.

² Ver sobre o regulamento do nagual de três pontas.



segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Ayahuasca e plantas de poder




Saudações!


Tenho lido os mails sobre Ayahuasca, ou Runipan¹, que é um termo que também uso mais para tal planta de poder. Creio que para falarmos sobre o tema deveríamos ir mais fundo. Como sabem considero falar e escrever um ato de poder, portanto, vem por aí um texto longo e que exige um grau de foco para ser realmente compreendido, recomendo mesmo que seja impresso para ser lido. 


Vamos começar pelo conceito de planta de poder. Este termo foi trazido a público pelo Doutor Carlos Castaneda, como tantos outros do Xamanismo hoje utilizados. 


Por que planta de poder? 


A definição de uma planta de poder é dada pela sua energia. 


Mirando as plantas os videntes notam que toda planta tem também um ovo luminoso ao seu redor. Por vezes esse ovo luminoso é pouco maior do que a própria planta, mas algumas plantas têm uma incrível e vasta projeção luminosa a sua volta, o que revela serem "plantas de poder". Há outro aspecto, as plantas se comunicam com a Terra de uma forma muito mais profunda do que nós, criaturas móveis, que também temos uma raiz, que se projeta na frente de nosso ovo luminoso, um fio Terra que todos temos e que sulca a energia da Terra enquanto nos movemos. 


As propriedades das plantas são conhecidas há milênios. As plantas podem curar, matar e induzir a estados alterados de consciência. Várias tradições xamânicas demonstram que o caminho rumo à descoberta das potencialidades que trazemos ocultas dentro de nós aconteceu, porque, por sugestão de "entes" de outros mundos, ou por curiosidade e mesmo fome, alguns homens e mulheres ingeriram tais plantas, entrando em estados alterados de consciência. 


Alguns deles foram mais longe e transformaram esse resultado errático em campo de estudo, sistematizando o que hoje conhecemos como tradição xamânica, nascida na alvorada dos Tempos. Não há nenhuma cultura nativa do mundo que não conheça ou deixe de fazer uso ritual das plantas de poder. E o que aconteceu a esta cultura na qual estamos inseridos, que negou e reprimiu tais procedimentos, substituindo com o insosso pão e vinho do rito cristão os antigos ritos de ingestão de plantas de poder? O vício e o desequilíbrio das drogas químicas, com o terror armado do tráfico e tudo mais que assistimos. 


O ser humano necessita do êxtase, do estado promovido antes pelos grandes rituais coletivos, onde em catarse provocada por danças, sons rítmicos e beberagens várias certas substâncias eram produzidas, para os fins do Ser Terra e de todo o esquema cósmico no qual estamos inseridos. 


O que se busca com a ingestão de uma planta de poder? 


Ampliar o estado de consciência, entrar em outra dimensão da realidade, normalmente inacessível a nossos sentidos comuns, a nossa forma usual de sentir e perceber o mundo. 


Por que usamos uma planta de poder? 


Para essa ampliação de nossa consciência , pois. 


Por que nos alimentamos? 


Por que sem alimentação não teremos matéria prima para manter nosso corpo vivo, com a constante renovação celular exigida para tal mister, tão pouco teremos energia para executar nossos processos existenciais. Sem alimentarmo-nos não pensamos, não sentimos, não agimos. Já pararam para pensar nisso, como é uma necessidade fundamental se alimentar. Os jejuns² tem várias virtudes, uma delas nos ensinar o que é sentir o corpo clamando por alimento, sua energia se findando. Tive algumas aventuras, que, entregue a mim mesmo, despido dos recursos que a vida "civilizada" nos dá, senti fome de verdade, que vem depois de mais de 36 horas sem alimentar-se. 


Além do alimento sólido precisamos ingerir água. Outra necessidade fundamental, já que sabemos que o Ser mundo no qual vivemos é feito predominantemente de água em nossa constituição. Alimento, água, isto precisamos ter para nos mover. Em tempos e locais sem supermercados, sem entrepostos de venda, ir suprir essas necessidades fundamentais dá um certo trabalho. A relação evidente de dependência fica mais clara. Os modos confortáveis da civilização que os conquistadores instalaram nos lugares conquistados cria uma falsa relação com o meio e assim, a indolência natural é acentuada, permitindo uma leitura da realidade que entorpece o senso de urgência não ansiosa, o estado de alerta constante que caracteriza quem está desperto. 


Como bem citado, Matrix é uma pálida alusão a uma realidade aterrorizante aos mais frágeis, que um (a) guerreiro encara com a mesma tranquilidade focada com que encara a não menos assombrosa ETernidade que nos cerca, envolve e nos empresta a consciência para que a amadureçamos, a mutemos através de nossas vivências e então, a pede de volta, um pedir que não precisa ser recusado, só ser atendido de outra forma, de uma forma criativa e ousada, como tudo mais que os(as) buscadores(as) da liberdade realizam. 


Comida, água. 

Necessidades básicas, dependências. 

Pouco paramos para pensar como temos dependências fundamentais em nossa vida. 

Alimentar-se e beber água. 

Tudo que vc leu até aqui só o fez porque se alimentou. 


A qualidade de sua alimentação determina muito a qualidade do tipo de substâncias que você vai gerar como matéria prima para a reconstrução celular constante que existe em nosso organismo, como também fornece energia para que tudo isso ocorra. Pois se está havendo uma regeneração celular constante, nossas células estão morrendo e nascendo, estamos sempre mutando também a nível corporal. A ilusão da solidez nos impede de ver isso, mas somos eventos dinâmicos, não pontos estáticos num contexto artificialmente gerado, aceito por convenção. 


O alimento entra no corpo. É mastigado, deglutido, vai para o estômago, sofre ali uma digestão mecânica e enzimática. Usando substâncias várias produzidas pelo corpo, as enzimas decompõem os elementos ingeridos em estruturas absorvíveis pelo organismo. Um exemplo da importância das enzimas é nossa incapacidade de digerir celulose. Nosso organismo não produz esse tipo de enzima. Assim a celulose entra e sai com a mesma natureza química, tendo sofrido apenas alterações de natureza física (mastigada, etc.) O alimento vai para as células, via circulação. Vejam os importantes glóbulos vermelhos, cheio do real material mágico da Alquimia, não o ouro, usado como símbolo e mais tarde distração. Mas o Ferro, o elemento mais abundante do planeta. Com a hemoglobina vai o terceiro alimento, o terceiro fator fundamental para nossa vida, além do que comemos e bebemos. 


O AR. 


Bem mais que o Oxigênio, que no entanto cumpre fundamental função para a vida e, também é, paradoxalmente, fator de entropia no organismo (as oxidações, fatores como radicais livres, etc.). Dentro da célula é a combinação de certas substâncias tiradas dos alimentos com o Oxigênio é que vai gerar energia para todos os processos que resultam no que chamamos de vida. O alimento está absorvido pelo organismo. Agora não há mais alimento e corpo, há só corpo com toda a matéria absorvida integrada em si. O ar se mistura com outros elementos. Respondemos a cada inspiração com uma expiração. Se o oxigênio é o que buscamos quando inspiramos, é gás carbônico que devolvemos quando expiramos. As plantas expiram oxigênio, na fotossíntese, e inspiram gás carbônico. Podemos nos tornar grandes amigos das árvores, algo difícil em nossos tempos pelo estado de guerra que nossa espécie declarou a estas belas companheiras. 


Isso é um processo simbiótico, como em simbiose vivem certas bactérias em nosso intestino, nos ajudando em processos digestivos e se alimentando enquanto isso. A simbiose com o mundo das plantas é muito profícuo. Mas da mesma forma que tiramos a vida no mundo animal para nos alimentar, tiramos a vida no mundo vegetal. Pois nos alimentamos de plantas também. Cada pé de alface que arrancamos, tem o mesmo sentido quando atiramos uma flecha ou armamos uma armadilha para capturar uma caça. Aquele pé de alface sentia o tempo, sentia as estrelas e as noites de luar, sentia o sol quando nasce e se põe, sentia a vida em toda sua expressão. Suas raízes vinham da mãe terra, onde nascera de semente, onde tivera que abrir seu espaço e uma dia surpreso se viu irrompendo num outro nível da realidade e da Terra, seu útero seguro, que lhe alimentava e protegia, vinha agora o desafio dos ventos, das chuvas de pedra, dos estranhos seres que se moviam de outra forma. Pois mesmo uma alface sabe que mobilidade e repouso são conceitos muito relativos. Essa alface, tanto quanto um porco do mato, uma galinha, uma capivara, tinham o prazer da vida em suas veias, quer por ela corresse o sangue ou a seiva. Mas como muitos perderam o Sentir e lhes restou apenas raciocinar, que é bem menos que pensar, esta percepção foi perdida. 


Quando compreendemos que as plantas têm esse nível de poder e consciência podemos entender o que é uma planta de poder, o que é convidar Runipan para partilhar conosco seu poder. Em um animal fica mais claro isso. Um(a) caçador(a) quando vai pela mata sabe que também somos caça. O vento que trás os cheiros também leva o seu. Quem já esteve em mata sabe que a gente sente o cheiro da onça de longe, ela exala um cheiro forte. Um caçador está preparado, ele vai a caça. Isto permite que ele estabeleça uma relação diferente com seu alimento. Quando o pega ele foi a face da Morte para sua caça. 


Se for sábio vai reconhecer que um dia a Morte poderá se mostrar da mesma forma para ele e na impossibilidade de saber mesmo o que vai lhe acontecer e quando, vive cada instante na plenitude de si. Quando aquele animal for comido a qualidade daquela carne, a força que ali estava, o poder, vai se impregnar na substância orgânica. Cada naco daquela caça, quer cru, quer assado ao fogo, vai ter consigo um pouco do poder daquela caça que correu livre, que viveu e metabolizou um aspecto da consciência da Eternidade, como todo ser vivo e consciente faz. 


Em um de seus aspectos a Vida é consciência. Sintam a diferença entre este alimento, em termos de poder e energia contidas e transmitidas a quem dela ingere, se comparado a um bife feito num restaurante, por um cozinheiro com raiva da gerência e com medo de perder seu emprego, servido por alguém que também está mals consigo, num lugar fechado, sem luz do sol, cheio de pessoas que fazem da refeição um momento de ansiedade e confusão a mais. Veja como esta civilização se alimenta mal, com vegetais e animais criados em grande quantidade, sem energia selvagem, por isso criando uma perigosa tendência a sermos nós também, domesticados servilmente. 


Esta diferença também ocorre no uso das plantas de poder. 


Primeiro, o que é uma planta de poder? 


É uma planta que tem muita consciência e algumas de suas fibras de consciência tem paralelo com as nossas de forma acentuada. A planta de poder carrega em si uma energia peculiar. Como toda energia orgânica tem sua densificação num ponto do organismo. É nos chamados "alcalóides" que essa energia peculiar se assenta nas plantas de poder. A composição química não é o único segredo. É na fórmula espacial das moléculas que está a força desses alcalóides. Eles têm tal conformação espacial que formam certas cadeias, têm padrões de ressonância os quais uma vez dentro do organismo ativam partes do corpo que estão adormecidas há milênios, falando em termos de espécie. 


Partes de nosso ser que ressoam a outras realidades, que nos permitem ver, ouvir, sentir, degustar e cheirar de formas completamente novas, além de levar a outros estados perceptivos que a partir de certo limiar já não mais estão no corpo denso, mas no corpo de energia, contraparte deste que conhecemos. 


Para todas essas manobras, porém não basta apenas a ingestão da planta de poder, há que se ter energia. 


Quando os predadores³ (ver texto sobre Predadores e Ponto de Aglutinação) chegaram e começaram a dominar a espécie humana, pouco a pouco, certas habilidades antes naturais foram sendo perdidas. Com a energia sendo consumida pelos predadores certas habilidades deixaram de ser atingidas enquanto potência realizada. Ficamos só com certa lembrança, certa intuição de que somos capazes, mas sem a condição energética para realizar. Por isso há tanta ênfase em reduzir nossa preocupação conosco mesmo, com nossa importância pessoal. 


Pois o que julgamos ser nós mesmos, nosso "eu" é tão somente um aglomerado de jeitos de pensar, sentir e agir, que nos deram e que nós absorvemos, por imitação ou imposição. Ë neste aglomerado travestido de "eu" que estão as grades de nossas celas, onde somos mantidos ignorantes de nós mesmos e de nossa real condição. Fomos condicionados a agir de tal ou qual forma. E assim respondemos aos estímulos, raramente agimos. Reagimos, mas raramente agimos. Estes estilos de agir, pensar e sentir não são a nossa "essência perceptiva". Somos o percebedor, mas estamos identificados com o percebido e parte desse percebido é um conjunto de estilos de agir, de pensar e de sentir que chamamos "eu". Se formos mais fundo na observação de nós mesmos teremos que reconhecer que nem é pensar, nem é sentir, nem é agir o que acontece. 


Raramente pensamos, na maior parte do tempo o que fazemos é raciocinar, que é um treino válido, mas limitado apenas a esta realidade convencional na qual vivemos. Raciocinar é operar apenas numa condição de memória, interpretando os dados recebidos a partir de um repertório. Uma condição de secundidade no dizer de C. Pierce. Pensar é mais amplo. Raciocinamos para treinar nossas habilidades a mergulhar no pensar, que entre outras coisas é criativo, realmente criativo, no sentido xamânico do termo. 


Nos emocionamos, para treinar o sentir. Emocionar-se é responder a estímulos, dos mais diversos, mas é resposta. A singularidade humana se manifesta em nós quando somos capazes de formular nossas próprias perguntas, ao invés de apenas repetir as respostas que nos fizeram decorar. Em todos os níveis e sentidos. E como tem demonstrado os behavioristas, para ira de muitos que se enamoraram da maquinaria mental, como dizia Skinner, os seres reagem, raras vezes agem, embora a natureza do estímulo está, na maioria das vezes, fora de seu espectro de percepção consciente. 


Mas podemos ir além. Podemos de fato sentir, pensar e agir. Para isso precisamos expandir nossa consciência, abarcar novos e mais complexos paradigmas sobre os quais construir nossa abordagem da realidade. Mas expandir consciência implica em tê-la. Como dizia Gurdjieff não se pode expandir a consciência inconscientemente. E aqui entra o ponto chave da questão das plantas de poder, como também da nossa relação com seres de outras realidades, tema de outro mail que estou mandando. 


Se usarmos as plantas de poder, a partir de nosso "eu normal", se usarmos as plantas de poder sem antes encontrarmos aquele lugar silencioso em nós, onde podemos ouvir a voz de nossa testemunha interior, estaremos usando o tremendo poder das mesmas, sua consciência intensificada que ingerimos, para apenas alimentar as projeções do que chamo "falsa personalidade", conjunto de formas de agir, pensar e sentir (que na realidade é reagir, raciocinar e emocionar-se) que apenas desejam que tudo fique como está, que é vaidosa, que é indolente, que tem medo e disfarça seu medo com arrogância, que é covarde e disfarça sua covardia com imprudência. Sem um claro trabalho sobre si mesmo, o uso de plantas de poder tem efeitos sempre questionáveis.

 

Foi essa a queda dos Antigos Videntes, alertam os Toltecas deste ciclo, encontraram maravilhas, mas o fizeram a partir de seu "eu" não cultivado. Expandir-se em estados estáticos de contemplação confusa dos mundos que existem além disso tem uma utilidade duvidosa para quem busca o viver estratégico e a compreensão efetiva daquilo que está à sua volta. 


Há outro detalhe. 


Existem pessoas que após certa idade param de produzir a enzima que digerem o leite. Assim sendo, se ingerirem o leite terão vários problemas, como alergias, doenças respiratórias. Mas para outras essa enzima continua ativa pela vida toda e assim, podem beber leite como bezerros até o fim da vida, quando a Terra os beberá também. Da mesma forma, as plantas de poder podem ser inócuas, debilitantes dentro de graus toleráveis ou intensamente debilitantes de acordo com cada pessoa. Existem pessoas que têm a habilidade de metabolizar os alcalóides, outras não. Por isso vamos encontrar pessoas que podem ter acesso às plantas de poder sem nenhum dano a sua estrutura física e outras não. 


E não só isso. 


Há também a questão da energia pessoal fundamental. Alguns têm essa energia em grande quantidade. Outros em pequena, alguns quase nenhuma. Essa energia que é determinada pelo grau de tesão com que a relação entre nossos pais aconteceu quando nos gerou, determina de forma inequívoca, quem pode e quem não pode trilhar certos caminhos. E por certo o caminho das plantas de poder não é único, muito menos o mais recomendado para quem busca a sobriedade. 


Atenção: Não quis dizer que o caminho das plantas de poder não pode ser trilhado com sobriedade. Disse que é um caminho que facilita a ausência de sobriedade. A planta de poder solta seu ponto de aglutinação. Ele pode sair errático e cair em qualquer novo alinhamento. Como os sonhos antes de serem controlados. E podemos nos arriscar a cair em mundos além de nossas possibilidades energéticas. Por isso, como tudo que se refere ao Conhecimento não pode ser trilhado com diletantismo. Há que se saber por que e como está fazendo isto. 


Segundo ponto importante, o uso em grupo. Todo trabalho coletivo usando plantas de poder exige a presença de um(a) condutor (a) preparado, alguém capaz de auxiliar no conduzir dos estados de consciência alterada que vão se produzir ali. Tem que saber usar da voz, dos tons, da energia do ambiente, tem que sentir cada um dos que estão ali para auxiliá-los, se necessário. O limite de um grupo de trabalho é o limite da capacidade do guia, do que conduz a canoa com os que trabalham juntos. 


Um efeito colateral de um trabalho grupal com plantas de poder é a entrada em ressonância entre os campos de energia dos participantes. Por isso se misturar a qualquer grupo de pessoas para usar qualquer tipo de plantas de poder é, no mínimo, imprudente. Se isso for feito de forma sóbria e focada, os participantes terão uma energia extra gerada pelo propósito grupal. Acima de oito rompem uma barreira energética importante, a barreira da personalidade. Mas tudo isso deve ser lido com uma mente muito diferente da mente usual. 


E aí entramos no foco desse tema: Os predadores⁵, que nos deram sua mente, e agora temos essa forma de pensar que não é natural a nossa espécie. Temos duas mentes, uma nossa mesma, fruto da somatória de nossas experiências. E uma outra, que os xamãs Toltecas chamam de "instalação alienígena". Ambas têm suas peculiaridades. Mas a mente do predador que está acoplada a nossa tem uma forma de ser que nos desequilibra e limita, para que sirvamos aos seus propósitos. A melhor analogia a isso foi dada por Matrix (famoso filme dos irmãos Wachowski, lançado em 1999). O ser humano deixou a condição de mamífero e se tornou destruidor como um vírus. Essa segunda natureza destruidora que temos não é realmente nossa. Foi implantada em nós. Um condicionamento. Como nos piores filmes classe B de ficção científica somos um grupo de escravos, mantidos numa sofisticada prisão, a prisão chamada "realidade". A realidade que vemos lá fora é mais sutil que a mostrada em Matrix, porém. Ali era uma simulação criada por máquinas. Aqui, há algo sim lá fora, vivemos num mundo gerador de energia, não num mundo espectro. As árvores, as pedras, tudo que nos cerca são itens geradores de energia. Vivemos num mundo que está doente com nossas agressões, mas ainda vivo e com energia. Nós processamos essa energia, como células, como enzimas do Ser Terra. Somos tipos de enzimas do Ser Terra, metabolizamos substâncias que na sua forma original o Ser Terra não poderia absorver. 


Não só substâncias físicas que metabolizamos, mas também as energéticas, vindas da eternidade, que metabolizamos de tantas formas em nosso sentir, pensar e agir, mesmo quando ele é mero emocionar, raciocinar e reagir, atitudes mecânicas. Portanto, temos que tomar cuidado com este detalhe para não nos limitarmos a uma dupla prisão. Somos células da Terra, somos parte do sistema orgânico que lhe possibilita existir e, além disso, estamos há alguns milênios escravizados por uma espécie de seres inorgânicos, isto é sem organismo, que vindos de alhures da Eternidade, nos pastoreiam agora, consumindo nossa energia, como os Massari fazem com seu gado (os Massari, povo da África, não matam o gado, tiram sangue deles e preparam sua comida com esse sangue. Sangram o gado pela vida toda do animal sem matá-lo.). 


Mas a prisão ao Ser Terra não é uma prisão. Só o ser humano da civilização industrial pensaria assim. Nossa ligação com o Ser Terra é simbiótica. Como organelas (mitocôndria, por exemplo) que migraram para dentro das células, mas eram seres independentes, que entraram em processo simbiótico para melhorar suas condições de vida e continuidade podemos nos sentir ligados ao SER Terra e aí passamos a uma troca justa onde metabolizamos energias para o Ser Terra e em resposta temos condições mais amplas para nossa sobrevivência e tempo para investigarmos os desafios que nos esperam. Condições de lutar pela Liberdade. Mas a resposta predadora existe em toda a ETernidade. A condição predadora da Realidade é algo que escapa aos(as) que estão escravizados(as). Por isso qualquer contato com seres de outra realidade devem ser conduzidos com o máximo de sobriedade e bom senso. Nessa nossa ligação simbiótica com o SER Terra podemos recuperar uma condição de ação disciplinada e focada, um estilo de vida que nos coloca vibracionalmente além do alcance destes seres que escravizam os humanos. E uma vez tendo alcançado esta primeira liberdade, teremos condição de seguir no Caminho e trabalhar pela segunda liberdade, a liberdade da condição de célula da Terra, que tem a consciência como empréstimo, que um dia vai ser tomado de volta. 


O segredo de tudo está na energia vital, que temos junto com a consciência. A consciência precisa ser devolvida, a energia vital não. E todo o treino de certas escolas visa isso, "despertarmos" isto é tornar a energia vital consciente de si mesma. E este trabalho pode ser auxiliado ou retardado pelo uso das plantas de poder. Tudo depende da forma que fazemos esse uso. 


Um último adendo. 


As mulheres raramente precisam de plantas de poder. Elas já tem um órgão que faz o papel que as plantas de poder tem para os homens. O útero na mulher é um órgão mágico por excelência. O assunto é amplo, mas creio que alguns pontos fundamentais foram expressos.

Nuvem que Passa

Data: Seg Mai 29, 2000 8:15 pm

Assunto: Re: [ventania] Runipan (Ayahuasca)



Notas


¹ Runipan significa homem forte. Ayahuasca, em Quéchua, quer dizer “cipó dos espíritos, vinho das almas Existem mais de 40 nomes diferentes para esta planta de poder, na verdade a combinação de duas ou mais plantas. Dentre eles temos: Natema, Yagé, Nepe, Ayahuasca, Santo Daime, Vegetal, Dapa, Pinde, Runipan, Bejuco Bravo; Bejuco de Oro; Caapi (Tupi, Brazil); Mado, Mado Bidada e Rami-Wetsem (Culina); Nucnu Huasca e Shimbaya Huasca (Quechua); Kamalampi (Piro); Punga Huasca; Rambi e Shuri (Sharanahua); Ayahuasca Amarillo; Ayawasca; Nishi e Oni (Shipibo); Ayahuasca Negro; Ayahuasca Blanco; Ayahuasca Trueno, Cielo Ayahuasca; Népe; Xono; Datém; Kamarampi; Pindé (Cayapa); Natema (Jivaro); Iona; Mii; Nixi; Pae; Ka-Hee’ (Makuna); Mi-Hi (Kubeo); Kuma-Basere; Wai-Bu-Ku-Kihoa-Ma; Wenan-Duri-Guda-Hubea-Ma; Yaiya-Suava-Kahi-Ma; Wai-Buhua-Guda-Hebea-Ma; Myoki-Buku-Guda-Hubea-Ma (Barasana); Ka-Hee-Riama; Mene’-Kají-Ma; Yaiya-Suána-Kahi-Ma; Kahí-Vaibucuru-Rijoma; Kaju’uri-Kahi-Ma; Mene’-Kají-Ma; Kahí-Somoma’ (Tucano); Tsiputsueni, Tsipu-Wetseni; Tsipu-Makuni; Amarrón Huasca, Inde Huasca (Ingano); Oó-Fa; Yahé (Kofan); Bi’-ã-Yahé; Sia-Sewi-Yahé; Sese-Yahé; Weki-Yajé; Yai-Yajé; Nea-Yajé; Noro-Yajé; Sise-Yajé (Shushufindi Siona); Shillinto (Peru); Nepi (Colorado); Wai-Yajé; Yajé-Oco; Beji-Yajé; So’-Om-Wa-Wai-Yajé; Kwi-Ku-Yajé; Aso-Yajé; Wati-Yajé; Kido-Yajé; Weko-Yajé; Weki-Yajé; Usebo-Yajé; Yai-Yajé; Ga-Tokama-Yai-Yajé; Zi-Simi-Yajé; Hamo-Weko-Yajé (Sionas do Putomayo); Shuri-Fisopa; Shuri-Oshinipa; Shuri-Oshpa (Sharananahua).


² O jejum intermitente, por exemplo, pode ser usado como uma prática para aumento de energia, vitalidade e despertar. A base científica de tal prática decorre dos trabalhos do prêmio nobel de Medicina de 2016, o biólogo japonês Yoshinori Ohsumi. O próprio jejum é uma prática de vários povos nativos como preparação para o ritual com Runipan e envolve um conceito mais amplo do que não-comer, adentrando na esfera do pensar e do falar.


³ Ver o capítulo 15 do livro O Lado Ativo do Infinito, de Carlos Castaneda, bem como a entrevista do xamã Credo Mutwa à David Icke:


https://www.youtube.com/watch?v=HLVQAHu6itQ&t=80s.


Secundidade - a arena da existência cotidiana, estamos continuamente esbarrando em fatos que nos são "externos", tropeçando em obstáculos, coisas reais, factivas que não cedem ao sabor de nossas fantasias. O simples fato de estarmos vivos, existindo, significa, a todo momento, que estamos reagindo em relação ao mundo. Existir é sentir a acção de fatos externos resistindo à nossa vontade. Existir é estar numa relação, tomar um lugar na infinita miríade das determinações do universo, resistir e reagir, ocupar um tempo e espaço particulares. Onde quer que haja um fenômeno, há uma qualidade, isto é, sua primeiridade. Mas a qualidade é apenas uma parte do fenômeno, visto que, para existir, a qualidade tem que estar encarnada numa matéria. O fato de existir (secundidade) está nessa corporificação material. Assim sendo, Secundidade é quando o sujeito lê com compreensão e profundidade de seu conteúdo. Como exemplo: "o homem comeu banana", e na cabeça do sujeito, ele compreende que o homem comeu a banana e possivelmente visualiza os dois elementos e a ação da frase - https://pt.wikipedia.org/wiki/Semiótica#Charles_Sanders_Peirce.


 A cristianização em torno de Runipan ou Ayahuasca pode ter o dedo, a mão e o pé de tais seres, que vem a beber de canudinho da energia gerada em tais trabalhos grupais e que são os “mentores” de muitos líderes de tais organizações religiosas cristianizadas em torno de Runipan.

Sagrado Feminino: Kali.

Justamente hoje (08/03//2024) é interessante lembrar de um arquétipo do feminino que é fundamental, não só pela sincronicidade que está rola...